O megainvestidor norte-americano Warren Buffett tem um princípio famoso que diz: "não invista naquilo que você não conhece". O conselho vale para qualquer tipo de investimento e investidor, mas se mostra ainda mais necessário quando um ativo é muito falado e novo, como é o caso das criptomoedas.
Entender um mercado antes de entrar nele é o primeiro passo de qualquer investidor. E para um mercado ainda novo e diferente, como é o de criptos, esse passo pode ser a diferença entre comprar um ativo com tranquilidade e cair em golpes, por exemplo.
Assim como qualquer mercado, o de criptomoedas tem suas regras e especificidades. Confira, abaixo, os principais termos desse universo para você conhecer melhor esse mercado antes de colocar dinheiro nele.
Mas, antes, o que são criptomoedas mesmo?
Criptomoeda é o nome genérico para moedas digitais. Diferentemente do real ou do dólar, as criptomoedas não são impressas e só existem no mundo online. Ou seja, você sabe que elas são verdadeiras, mas não consegue pegá-las, guardá-las na carteira, no cofre ou embaixo do colchão.
Elas também são descentralizadas. Em outras palavras, não existe um banco central ou governo que controle a criação e a circulação desses ativos digitais. Quem faz isso são os próprios usuários.
Como elas são criadas?
As criptomoedas são criadas no mundo digital, em uma rede blockchain. Na prática, as criptomoedas são resultado de aplicações feitas dentro desse tipo de rede. A primeira blockchain criada foi a do bitcoin. Mas já existem centenas de blockchains no mercado, que geram suas próprias criptomoedas.
Ou seja, toda criptomoeda é gerada a partir de uma blockchain, seja uma rede própria ou uma derivação das redes principais, como a Bitcoin e a Ethereum.
Uma curiosidade: quando você ver Bitcoin ou Ethereum, por exemplo, escritos com letra maiúscula, trata-se das redes blockchain. Mas quando bitcoin ou ethereum (ou ether) estiverem em letra minúscula, você está lendo sobre as criptomoedas dessas redes blockchain.
Além disso, nem sempre os nomes das criptomoedas são iguais aos nomes das redes blockchain dessas criptos. Por exemplo: a criptomoeda da rede Ethereum chama-se ether, mas é comum você ver pessoas e plataformas chamando a cripto de ethereum mesmo.
Criptomoedas estão atreladas a projetos
As criptomoedas mais sólidas e confiáveis do mercado carregam uma tecnologia com elas. Em outras palavras, elas não são apenas moedas com as quais é possível comprar produtos e serviços na internet. Elas representam algum tipo de tecnologia que pode ser aplicada em outras áreas e setores.
É por isso que, no mundo das criptomoedas, fala-se muito sobre projetos. Esses projetos são justamente as tecnologias que estão por trás de cada criptomoeda. E grande parte deles é executada em uma rede blockchain.
O que é blockchain?
A rede blockchain é um sistema que funciona como se fosse um grande banco de dados, onde é possível enviar ativos digitais, contratos e arquivos sem intermediários, e de qualquer lugar do mundo. Nessa rede, as informações são carregadas em blocos de códigos gerados online. Uma vez colocadas dentro desses blocos, as informações não podem mudar e não saem de lá. Elas ficam trancadas e não são atreladas ao nome de uma pessoa ou empresa, mas a números.
Isso acontece porque nessa rede tudo é criptografado – ou seja, existe uma camada de códigos de segurança que impede que a informação saia desses blocos. Cada bloco de informação é selado em outro, formando uma corrente. Quem confere as informações e fecha os blocos são os mineradores – que são pessoas ou empresas espalhadas pelo mundo que usam supercomputadores para manter o sistema funcionando.
É como se uma transação feita nessa rede fosse colocada em um cofre. O minerador é a pessoa que confere o que tem no cofre, tranca a porta de um jeito que ninguém mais consegue abrir e conecta esse cofre a uma cadeia de outros cofres para selar a operação – por isso o nome "blockchain" ou cadeia de blocos.
O que é criptografia?
Você deve estar se perguntando: então os mineradores têm acesso às informações das minhas transações? Não. Tudo o que eles enxergam são códigos criptografados. Criptografia é um conjunto de códigos que impedem que outras pessoas entendam uma mensagem ou informação.
A criptografia é feita de tal forma que apenas quem envia e recebe a mensagem a entende. Ou seja, no caminho entre quem envia e quem recebe a informação só existem letras e números embaralhados. E para conseguir fechar um bloco e encaixá-lo em outros blocos, os mineradores usam cálculos matemáticos realizados por algoritmos. Em outras palavras, tudo o que eles enxergam são contas muito difíceis de fazer.
Como a blockchain funciona na prática?
Imagine que você quer enviar um ativo digital (uma criptomoeda, um contrato ou um arquivo) para João. Veja como essa transação acontece em uma blockchain:
- O ativo é representado online como um bloco onde os detalhes estão armazenados;
- O bloco é distribuído pela rede, que verifica se o ativo é válido em questão de minutos;
- Se aprovado, o bloco é adicionado a uma corrente composta por outros blocos e ganha um registro permanente na rede. Isso significa que ele não pode ser alterado;
- A propriedade do ativo digital, que era sua, agora fica registrada na rede como sendo de João;
- Toda essa movimentação é validada pela rede, mas ninguém sabe quem está fazendo a transação. Essa informação é protegida por um código formado por letras e números muito difícil de ser descoberto.
O mercado de criptomoedas
Entender o que é criptomoeda, criptografia e blockchain é a base para conhecer o mercado de criptos. Agora, confira outros termos que fazem parte do universo de quem compra e vende moedas digitais.
1. Altcoins
São criptomoedas alternativas ao bitcoin. Ou seja, elas têm redes blockchain independentes, mas muitas surgiram a partir do código do próprio bitcoin. Na prática, todas as criptomoedas que não são bitcoin são altcoins.
2. ATH (All Time High)
O termo se refere ao máximo valor alcançado por uma criptomoeda, ou seja, ao seu maior valor histórico. O ATH do bitcoin, por exemplo, aconteceu em 2021, quando a cripto atingiu US$ 67 mil.
3. Baleia
No mercado de cripto, baleias são grandes investidores, pessoas com uma quantidade enorme de uma criptomoeda na carteira. Um investidor baleia costuma ter força para movimentar o preço de um ativo.
4. Bear market
Você já deve ter ouvido falar. Este termo, que na tradução literal é "mercado de urso", é usado para o mercado de ações e, agora, também é aplicado ao mercado de criptos. Um "bear market" é um mercado em baixa. Em outras palavras, quando os ativos estão se desvalorizando. Um investidor "bear" é aquele que aposta na queda de um ativo.
5. Bull market
Assim como ocorreu com o termo "bear market", o "bull market", usado para Bolsas, também foi incorporado ao mercado de criptos. Ele significa "mercado de touro" e é usado quando os preços estão em alta. Um investidor "bull" é aquele que aposta na alta de um ativo.
6. Bloco Gênesis
Quando alguém menciona bloco gênesis, no contexto das criptomoedas, está falando sobre o primeiro bloco de bitcoin minerado.
7. Chave privada
Já ouviu aquelas histórias de pessoas que perderam a senha de acesso às criptos e, por isso, perderam muito dinheiro? Essa senha é a chave privada. Ela é um código, com muitos números e letras. Com essa senha, você tem acesso aos ativos que comprou e pode movimentá-los.
8. Chave pública
Hoje, você consegue ter até cinco chaves Pix para cada conta bancária. No mercado de cripto, a chave pública funciona de forma parecida. Você pode criar várias chaves públicas a partir de uma chave privada. Com essas chaves públicas, outras pessoas podem fazer transferências para a sua carteira que está na blockchain. É como se fosse o seu endereço na blockchain.
9. Cold wallet ou Cold storage
Quando você compra uma criptomoeda pela primeira vez, você cria uma carteira digital, onde é possível colocar várias chaves privadas, que dão acesso aos seus ativos. Em geral, as carteiras ficam online, mas é possível ter uma carteira offline (cold wallet, que é carteira fria; ou cold storage, que significa armazenamento frio). Essa carteira fica em lugares que não estão conectados à internet, como pen-drives e até papel.
10. Custódia
Outro termo emprestado do mercado de ações. Quando você compra ações, a B3, a Bolsa de Valores brasileira, fica com a custódia delas. Ou seja, ela é a responsável por proteger os seus ativos e mantê-los disponíveis para quando você quiser movimentá-los. No mercado de cripto, ter a custódia de uma carteira significa manter suas chaves privadas protegidas.
11. Criptoativo
Sim, criptoativos e criptomoedas não são a mesma coisa. Criptoativo é um ativo digital que não funciona em uma rede blockchain. Na prática, ele pode ser qualquer coisa que tenha valor no mundo real e que pode ser representado digitalmente, como um título e até as moedas fiduciárias (real, dólar e euro, por exemplo). Apesar de não atuarem em blockchain, os criptoativos também são protegidos por criptografia.
12. Exchanges
São como corretoras de valores, só que especializadas em criptomoedas e criptoativos. Elas fazem a intermediação entre as pessoas e o mercado de criptos.
13. Faucets
Você já deve ter ouvido falar em sites e plataformas que remuneram as pessoas com pequenas frações de criptomoedas por tarefas simples, como responder a pesquisas e assistir a vídeos de publicidade. Esses sites são chamados de faucets.
Aqui vale atenção redobrada: ao buscar um faucet, cuidado para não cair em sites golpistas, que pedem seus dados bancários, pessoais e do seu cartão de crédito. Os golpistas também criam faucets falsos para roubar os seus dados (phishing).
14. Fiat
Não, não é a empresa de automóvel. No mercado de criptos, fiat são as moedas tradicionais, as fiduciárias, como o real e o dólar, por exemplo. Esse termo também se refere a investimentos convencionais, como títulos públicos e ações. Ou seja, quando ouvir: “você pode converter sua criptomoeda em uma fiat”, isso quer dizer que você consegue trocar sua cripto por uma moeda ou investimento tradicional.
15. Fork
Se você ouvir falar neste termo, provavelmente alguém está falando de alguma rede blockchain. É que fork é usado para se referir a uma rede que é derivada de outra. Por exemplo: a rede Ethereum é derivada da blockchain Bitcoin. Ou seja, a Ethereum é uma fork.
16. Halving
Quem minera criptomoedas não faz isso de graça. Em geral, os mineradores recebem a própria criptomoeda da blockchain onde estão minerando como recompensa. No caso do bitcoin, essa recompensa vai diminuindo a cada quatro anos. Esta redução se chama halving. Hoje, um minerador recebe em torno de seis bitcoins a cada bloco minerado na rede Bitcoin. Mas este pagamento já foi de 50 bitcoins.
17. Hash
Lembra que os mineradores precisam encaixar um bloco no outro para formar uma corrente dentro da blockchain? Esse "encaixe" se chama hash. Na prática ele é um código com letras e números que representa as informações que estão no bloco.
18. HODL (ou Hold)
"Hold" significa segurar, em português. No mundo dos investimentos, "hold" representa a estratégia de comprar um ativo e ficar com ele por um bom tempo antes de vendê-lo. Se você ler essa palavra escrita de forma errada ("Hodl"), não se preocupe. É dessa forma que a comunidade de criptos escreve ao falar sobre essa estratégia.
19. ICO (Initial Coin Offering)
Assim como existe o IPO (Oferta Inicial Pública) na Bolsa de Valores, também existe uma oferta inicial no mercado de criptomoedas. Uma ICO é como se fosse uma pré-venda de uma cripto. Em geral, quando isso acontece, é porque a criptomoeda é uma fonte de financiamento de algum projeto ou empresa.
Este é outro ponto que pede sua atenção: existem muitos golpes com ICOs. Você pensa que está incentivando um projeto ou empresa, mas, na verdade, está só transferindo dinheiro para golpistas. Então, cuidado!
20. Input
Endereço de origem de uma transação com bitcoin.
21. Ledger
É como se fosse um livro onde todas as transações feitas em uma blockchain são registradas. É um documento que anota cada transação, mas ele não anota que tipo de informação ou documento foi enviado ou recebido. Essas informações não podem ser apagadas no livro e qualquer pessoa pode acessá-las. O ledger registra apenas os códigos que representam as pessoas que enviaram e receberam um ativo pela blockchain, e não a identificação dessas pessoas.
22. Market cap
O market cap é a capitalização de mercado, ou seja, é o valor de mercado de um ativo. Na prática, é o valor unitário do ativo multiplicado pela quantidade dele no mercado. Na Bolsa de Valores, por exemplo, o valor de mercado de uma empresa é o preço de uma ação dela multiplicado pelo número de ações que essa empresa tem. Com criptomoedas é a mesma coisa. O market cap é o valor unitário da cripto multiplicado pela quantidade dela no mercado.
23. Memecoins
São criptomoedas que representam um meme ou brincadeiras que viralizam na internet. Como toda cripto, as memecoins são criadas em uma rede blockchain, mas, em geral, elas não carregam projetos de tecnologia.
24. NFT
Sigla para "Not Fungible Tokens", ou tokens não fungíveis, em português. Na prática, NFTs representam o registro de algo que existe no mundo real, como obras de arte, em uma rede blockchain. Esses tokens são códigos que garantem que aquela obra, por exemplo, é única e autêntica. Ou seja, quando você compra uma NFT de algum ativo, só você vai ter esse ativo.
25. Output
Se o input é o endereço de origem de uma transação com bitcoin, o output é o endereço de destino.
26. Pump and Dump
A tradução literal desse termo é "inflar e descartar". No mundo das criptos, ele é conhecido como uma fraude. Nessa "técnica", o fraudador aumenta o preço de uma cripto fazendo operações falsas para vendê-la na sequência, quando o preço dela estiver lá em cima.
27. Pump
Quando o preço de uma criptomoeda sobe muito, em um curto período de tempo.
28. Rekt
É um termo trazido do mundo dos games e que representa aquela pessoa que perdeu tudo o que tinha com criptomoedas. Cuidado para não se tornar um rekt!
29. Satoshi
O "manual" para a criação do bitcoin foi divulgado em 2008 e assinado por Satoshi Nakamoto. Até hoje não se sabe se Satoshi é uma pessoa ou um grupo. Além de ser conhecido como o pseudônimo do criador da primeira criptomoeda do mundo, o termo satoshi é usado para representar a menor divisão de um bitcoin. Cada bitcoin é formado por 100 milhões de satoshis.
30. Scamcoin e shitcoin
Se você ouvir ou ler estes termos em algum lugar, a coisa não é boa. A scamcoin é uma cripto criada para dar golpes. E a shitcoin é aquela criptomoeda sem qualquer reputação na comunidade de criptos. Fique longe dos dois tipos!
31. Smart contract (contratos inteligentes)
O termo está ganhando cada vez mais espaço no mundo das criptos. É uma tecnologia que permite a realização automática de acordos. Foi a rede Ethereum que permitiu a criação dessa tecnologia. Com os contratos inteligentes não é necessário nenhum órgão ou governo para fiscalizar se um contrato entre duas pessoas ou empresas foi cumprido. Isso porque, dentro da blockchain, ele é cumprido automaticamente, de acordo com as regras “escritas” nos códigos e que são irreversíveis.
32. Stablecoin
É um tipo de criptomoeda que tem seu valor atrelado a uma moeda fiduciária, usualmente o dólar. A primeira stablecoin do mercado é a tether. A ideia das stablecoins é dar mais estabilidade de preço.
33. Token
São ativos que representam algum direito que pode ser usufruído no futuro. Ou seja, você compra hoje para ter alguma vantagem, algum acesso de produtos ou serviços no futuro. Times de futebol têm usado tokens para engajar a base de torcedores mais fiéis. Ao comprar um token, o torcedor pode ter descontos em ingressos dos jogos, acesso ao vestiário e outras vantagens. Na prática, o token representa no mundo digital um direito, que pode ser o direito a um ativo específico, serviço ou produto.
34. Web3
É um novo tipo de serviço de internet construído a partir de blockchains. Ou seja, é a internet controlada pelos usuários e desenvolvedores que usam blockchain. Dentro dessa "nova web", tudo é descentralizado e sem intermediários, como redes sociais, jogos e serviços.
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