Você tem R$ 2.000. Coloca em uma aplicação em renda fixa que rende 100% da Selic e não mexe mais. No fim do ano, ganhou R$ 285.
Soa maravilhoso? Assim era a vida do pequeno investidor em 2015, quando o Banco Central estabeleceu a Selic em 14,25%.
Entre julho de 2015 e outubro de 2016, a taxa básica de juros da economia permaneceu nesse patamar – foram 10 ciclos de manutenção até o Copom começar a baixá-la.
Hoje, a Selic está em 11,25% ao ano. Em termos práticos: aqueles mesmos R$ 2.000 naquela aplicação hoje renderiam R$ 223 em um ano – e não os R$ 285 de cinco anos atrás (em ambos os casos, sem contar eventuais descontos de impostos e taxas).
“Ah, mas então a Selic alta é muito melhor!”. Bom… não é bem assim. Olhar para a Selic sozinha não dá o cenário completo. E entender o papel dela na economia é essencial para saber por que ela cai e sobe.
O que é a Selic mesmo?
Selic é a sigla para Sistema Especial de Liquidação e de Custódia. Esse é um sistema operado pelo Banco Central que, de forma simplificada, cuida das negociações de títulos públicos federais. A taxa Selic é a taxa de juros aplicada nas operações diárias de financiamento com esses títulos.
Mas por que isso importa para as pessoas no dia a dia?
Porque a Selic é considerada a taxa básica de juros da economia. Isso significa que ela serve de base para inúmeras outras – como os juros de um empréstimo ou o rendimento de uma aplicação, por exemplo.
A poupança, que apesar de oferecer uma das piores rentabilidades do mercado ainda é o investimento mais popular do Brasil, é um desses casos: atualmente, ela tem um rendimento fixo de 0,50% ao mês mais a Taxa Referencial. Mas, quando a Selic estiver igual ou abaixo de 8,5%, a poupança passa a render 70% do valor da taxa de juros – se ela cai mais, a poupança também cai, se ela sobe até o limite de 8,5%, ela também sobe.
E por que a taxa Selic sobe e desce?
Quem mexe na taxa Selic é o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central. A cada 45 dias, ele se reúne para definir se a Selic vai subir, cair, ou permanecer igual.
O objetivo do Banco Central com esses movimentos da Selic é controlar a inflação. Ao mexer nos juros do mercado como um todo, ela ajuda a determinar se haverá mais ou menos dinheiro em circulação na economia – mexendo, portanto, no termômetro da inflação.
De modo geral:
- Quando a Selic está alta, os rendimentos de aplicações em renda fixa sobem e as taxas de crédito e empréstimo ficam mais caras. A tendência é que as pessoas gastem menos, puxando a inflação para baixo.
- Quando a Selic está baixa, aplicações seguras têm rendimento menor e o acesso ao crédito fica maior. A tendência é que as pessoas gastem mais, puxando a inflação para cima.
Todo ano, o Banco Central coloca uma meta para a inflação e vai acompanhando a economia e olhando para o futuro. Ao mexer (ou não) na Selic, a intenção é manter a inflação o mais próxima possível da meta.
Outro fator altamente afetado pela taxa Selic é a quantidade de investimentos estrangeiros no país. Quando a taxa de juros está alta, a tendência é que investidores de outros países coloquem mais dinheiro no Brasil – afinal, os títulos públicos rendem mais.
Isso mexe na quantidade de dólares no país, que, por sua vez, também é um dos elementos que impactam a inflação. Quando a oferta de dólares no Brasil é alta, a cotação tende a cair. Quando ela é baixa, tende a subir. Um dólar mais alto do que o indicado favorece as exportações e tende a aumentar os preços por aqui.
Voltando para a Selic alta
Levando isso tudo em consideração, sim, é verdade que a taxa Selic a 14,25% representava ganhos relativamente altos para riscos baixíssimos.
Afinal, na maioria dos casos, as aplicações em renda fixa possuem garantia do Fundo Garantidor de Créditos (FGC), que devolve o seu dinheiro no limite de R$ 250 mil por CPF e por instituição financeira, caso algo aconteça. Ou seja, naquele momento, as pessoas tinham um amplo leque de investimentos com rentabilidade garantida e sem risco de perder seu dinheiro.
Só que, do outro lado da balança, a Selic alta tornava a situação mais difícil para pessoas endividadas. Para quem precisava tomar um empréstimo ou fazer um parcelamento, o patamar das taxas de juros estava mais elevado.
Vale lembrar, também, que a inflação naquele momento estava bem alta: em julho de 2016, ela registrava um aumento de 8,74% em 12 meses – bem acima da meta de 4,5% daquele ano.
Em outras palavras: sim, o dinheiro rendia mais. Mas o poder de compra também reduzia bem e as dívidas, tanto de pessoas físicas, como de empresas e também do Governo aumentavam muito. Isso acontece porque os juros dessas dívidas também estão atrelados à Selic. Com dívidas maiores, o comprometimento da renda das pessoas e dos caixas das empresas e do Governo é maior. Dessa forma, sobra menos para investir.
Resumindo: não existem soluções fáceis na economia e raramente a pergunta “é bom ou ruim” vai ter uma resposta diferente de “depende”.
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