Abordagem do número único: o que é esse tipo de orçamento?

Sabe aqueles gastos ocasionais que aparecem ao longo da semana? Entenda como a abordagem do número único te ajuda a organizá-los.

Soma aqui, divide ali, corta isso, adiciona aquilo… Há quem diga que planejamento financeiro significa sentar por horas em frente a uma planilha, onde cada centavo que entra e que sai da conta é rigorosamente calculado. Essa definição não deixa de estar certa para algumas pessoas, mas por melhor que a gente se organize, sempre vai aparecer um gasto inesperado ao longo da semana. É esse tipo de despesa que a abordagem do número único (ou "one-number-approach") ajuda a organizar.

Então dá para prever o imprevisível? Mais ou menos. Gastos extras acontecem e podem sair caro no fechamento do mês. O que o orçamento de um único número propõe é definir uma margem de tolerância para gastar semanalmente com despesas variáveis – do delivery de pizza até uma pequena manutenção em casa – sem comprometer a sua renda.

A proposta foi criada por Rachel Sanborn, diretora de serviços de consultoria da plataforma financeira americana Ellevest. O pensamento de Rachel é que despesas fixas (como contas e dívidas) precisam ser respeitadas, então o que pode variar são os gastos flexíveis. E, para dar conta de pagar tudo isso sem ficar no vermelho, cada pessoa precisa chegar ao chamado número único

Assim, tendo uma noção mais ampla de até onde você pode ir com seus gastos a cada semana, fica mais fácil controlar o dinheiro sem se apertar no fim do mês.

Entenda, a seguir, como funciona esse modelo de orçamento, e como descobrir o seu número único.

O que eu preciso saber sobre o orçamento do número único?

Antes de partir para o cálculo, é preciso avaliar seu rendimento mensal e entender os seus gastos fixos e variáveis. 

Rendimento mensal é o dinheiro que entra na sua conta todos os meses. Se você tiver um trabalho CLT, considere o seu salário líquido, ou seja: já com os descontos abatidos. Se você for um trabalhador autônomo ou informal, considere a média dos últimos 12 meses para ter uma ideia.

Gastos fixos são todas as contas que não variam muito de um mês para o outro e que você consegue prever. 

Nesta categoria você pode incluir desde gastos considerados essenciais, como aluguel, água, energia elétrica e alimentação, até assinaturas recorrentes como um plano de academia ou um serviço de streaming, por exemplo. Se você tiver um financiamento ou guardar um valor mensal para sua reserva de emergência ou quitação de dívidas, inclua essas despesas também como gastos fixos.

Gastos variáveis são as compras do dia a dia. Sabe quando você sai de casa para resolver alguma coisa na rua e aproveita para dar uma passadinha na papelaria? Ou em casa mesmo, quando bate aquela preguiça de cozinhar e você resolve pedir uma pizza? 

Então: os gastos variáveis são aqueles que não foram planejados com antecedência porque não acontecem sempre, e demandam uma tomada de decisão sua para serem realizados. 

Aqui, o que importa não é se eles são ou não dispensáveis, mas sim quais gastos são esses. Pode ser a troca da resistência do chuveiro, uma ida à feira ou mesmo um picolé comprado na padaria.

São esses os gastos que a abordagem do número único vai ajudar a controlar.

E como é o cálculo para chegar nesse tal número único?

O cálculo é bem simples:

  1. Anote a sua renda mensal;
  2. Subtraia todos os seus gastos fixos;
  3. Divida o resultado por 4,3, que é o número médio de semanas em um mês;
  4. Pronto! O resultado obtido é o seu número semanal.

Na prática, uma pessoa com um salário líquido de R$ 3000, e que tem R$ 2300 em gastos fixos, pode calcular o seu número único da seguinte forma:

Renda mensal: R$ 3000

Gastos fixos: R$ 2300 

Agora, basta subtrair os gastos fixos da renda mensal. Fica assim: R$ 3000 - R$ 2300 = R$ 700 (dinheiro que pode ser usado para gastos variáveis).

Depois, é só dividir esse valor pela quantidade média de semanas por mês (4,3, lembra?): R$ 700 ÷ 4,3 = R$ 162,79.

Ou seja: para essa pessoa do exemplo, R$ 162,79 é o valor total que ela pode gastar semanalmente com despesas variáveis. Assim fica bem mais fácil tomar decisões e controlar o orçamento. 

Como esse valor funciona como um teto de gastos, dá, por exemplo, para gastar um pouco abaixo do valor em uma semana e compensar com um gasto maior na outra. E, claro, se a pessoa gastar abaixo disso todas as semanas, ainda consegue juntar um dinheirinho para a reserva de emergência.

Será que vai funcionar pra mim?

Como em qualquer modelo de orçamento, a resposta é: depende. Existem diferentes abordagens com recortes distintos, e todas têm suas vantagens e desvantagens.

Vale lembrar que o rendimento médio mensal dos trabalhadores brasileiros é de R$ 2.532, e muitas vezes o salário de uma única pessoa é responsável pelo sustento da família toda. Com isso, sobra pouco  – ou nada – para gastos variáveis ou não essenciais.

No caso da abordagem do número único, esse orçamento ajuda principalmente pessoas que têm dificuldade para controlar o dinheiro do dia a dia. Às vezes são os gastos menores ou ocasionais que pesam na soma do orçamento familiar. Então um modelo como esse pode funcionar, porque impõe limites que nem sempre são óbvios quando tomamos decisões de arcar ou não com uma despesa.

De qualquer forma, não há resposta certa. Vale testar diferentes modelos até chegar no que mais combina com você, já que, quanto mais entendimento você tiver sobre o seu dinheiro, melhores serão suas decisões sobre como usá-lo.

É importante lembrar que o número único não representa um passe livre para gastar tudo: ter aquele valor à disposição toda semana é uma possibilidade, não uma obrigação. Sempre que puder economizar, um pouquinho que seja, opte por guardar para investir em objetivos maiores.

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