Alguém já te disse que deixar uma garrafa de água na mesa faz você se hidratar mais? Ou recomendou ir ao supermercado sem fome, porque assim você gasta menos? Essas dicas simples, que muitas vezes são ignoradas, dão certo mesmo.
E por que isso acontece? Porque, de alguma forma, elas mudam o seu contexto e te incentivam a agir e a tomar uma decisão, seja gastar menos no supermercado, beber mais água ou lembrar de alguma coisa, por exemplo.
Todas essas dicas são chamadas de "nudges" (empurrãozinho, em inglês) e têm como base estudos de um campo da Economia Comportamental chamado arquitetura de escolhas. Mas o que é tudo isso? E o que nudge e arquitetura de escolhas têm a ver com o seu dinheiro? Leia abaixo.
O que é arquitetura de escolhas?
Quando você ouve "arquitetura de escolhas" deve ter imaginado um arquiteto, né? De certa forma, a arquitetura de escolhas também cria projetos que te ajudam a tomar melhores decisões.
Mas eles não se restringem a ambientes físicos, como explica a professora, psicóloga e psicanalista Vera Rita de Mello Ferreira, presidente da Associação Internacional de Pesquisa em Psicologia Econômica e integrante do comitê de pesquisa da Rede Internacional de Educação Financeira da OCDE.
"[Arquitetura de escolhas] é um desenho do contexto que ajuda a pessoa a fazer a melhor escolha possível, aquela que se alinhe mais aos seus próprios objetivos. Isso vai além da arquitetura física. Pode ser, por exemplo, a maneira como você apresenta informações, a sequência de perguntas num questionário, o tamanho da letra num formulário. Na arquitetura de escolha o objetivo é ajudar o cidadão, o tomador de decisão, a errar menos e a acertar mais nas suas escolhas", explica.
Tudo importa na tomada de decisão
O conceito da arquitetura de escolhas foi criado pelo professor de economia e de ciências comportamentais Richard Thaler, vencedor do prêmio Nobel de Economia de 2017, e pelo especialista Cass Sunstein. Eles explicaram a ideia no livro "Nudge: Como tomar melhores decisões sobre saúde, dinheiro e felicidade".
Segundo eles, vários estudos da Economia Comportamental descartaram aquela ideia de que o ser humano é apenas racional, e de que as pessoas podem tomar as melhores decisões para si mesmas. Eles concluíram que detalhes, que parecem insignificantes, podem gerar grandes impactos no comportamento das pessoas.
Ou seja, na hora de tomar uma decisão, tudo é importante: do lugar onde você está às pessoas e objetos ao seu redor.
Até a forma como você se sente emocionalmente e fisicamente muda seu contexto e interfere na tomada de decisão. Segundo a professora Vera Rita, estados como fome, cansaço, pressa e estresse, por exemplo, interferem mais do que se imagina nas decisões, inclusive as financeiras.
Lembra daquela dica de não ir ao supermercado com fome? As chances de você gastar mais com itens que não estavam na sua lista são bem maiores quando você só está pensando em comer. Se estiver cansado, pode assinar um contrato de empréstimo sem ler direito as condições. O estresse, por exemplo, pode ser um gatilho para aquela comprinha por impulso.
E nudge? O que é isso?
Quem nunca precisou daquele empurrãozinho para finalizar uma tarefa, sair da cama mais cedo, prestar atenção naquela reunião que parece nunca terminar, ir à academia…Esse empurrão pode ser um alerta no celular, o telefonema de um amigo, um lembrete num post it. Não importa. Tudo o que te incentiva a fazer alguma coisa e a tomar alguma decisão tem um nome: nudge, que em português é o bom e velho empurrãozinho.
O nudge é a principal ferramenta da arquitetura de escolhas. Não existe um desenho de tomada de decisão sem um ou vários nudges. Segundo Richard Thaler e Cass Sunstein, um nudge é qualquer estímulo capaz de mudar um comportamento, sem vetar qualquer opção. Para ser um nudge, essa intervenção precisa ser simples e barata, e não pode, de forma alguma, ser uma ordem ou uma proibição.
Se você quer gastar menos com aplicativos de comida, por exemplo, proibir a si mesmo de usá-los não é um nudge. E, inclusive, pode não te ajudar muito. Você acaba encontrando outras formas de comprar comida fora de casa. Agora, deixar a marmita pronta dentro do microondas e acionar um alarme no celular para você esquentar a comida são nudges.
Ou seja, são estratégias simples, fáceis, e que alteram o seu contexto, te levando a seguir o caminho em direção àquilo que quer –no caso, não pedir comida pelo aplicativo.
Resumindo: na prática, uma arquitetura de escolhas que te ajuda a tomar uma boa decisão é repleta de pequenas intervenções que te conduzem àquilo que deseja.
Como usar o nudge e a arquitetura de escolhas para lidar melhor com o dinheiro?
Para começar, você precisa definir seu objetivo. O que você quer? Economizar? Guardar dinheiro? Começar a investir? Reduzir as compras por impulso? Escolha o seu principal objetivo financeiro.
Depois, a ideia é estudar o seu contexto: o ambiente, as pessoas, os objetos, as ferramentas ao seu redor, seu estado emocional e físico. O que te impede de atingir seu objetivo?
Será que você não está comprando por impulso depois de um dia intenso e estressante de trabalho? Ou depois que brigou com sua namorada, por exemplo? Coloque tudo no papel para identificar aquilo que precisa ser mudado no seu contexto.
Qual arquitetura de escolhas prejudica suas decisões financeiras?
Existem várias situações que o seu contexto te influencia a tomar decisões que não fazem sentido para os seus objetivos. A professora Vera Rita dá alguns exemplos.
"Quando a gente fala em arquitetura de escolha em que o contexto prejudica o tomador de decisão, estamos falando de informações super pequenininhas, como acontece com aqueles contratos em letra miúda, por exemplo. A pessoa não consegue direito e desanima. Muita informação também prejudica, principalmente quando é irrelevante. No caso de produtos financeiros, estamos falando daquela sopa de letrinhas, das palavras em inglês. Isso afasta as pessoas", exemplifica.
Agora que você identificou o contexto que te afasta do seu objetivo, é hora de identificar aquele que te ajuda.
Qual arquitetura de escolhas te ajuda a tomar boas decisões?
Se o seu objetivo é pedir menos comida por aplicativo, o que você fez no dia em que ficou sem usar o app? Cozinhou? Comprou marmitinhas para o mês todo? O que funcionou?
Depois de fazer tudo isso, você já sabe o que quer, conhece os gatilhos que te fazem tomar a decisão que não quer e qual é o contexto que te favorece. Agora, é hora de criar os seus nudges, aquelas intervenções que vão te afastar das decisões ruins e te guiar para o seu objetivo.
Nudges para guardar dinheiro
Se a ideia é guardar dinheiro para algum objetivo ou começar a investir, a professora Vera Rita explica um nudge simples, mas poderoso.
"A arquitetura de escolhas tem uma arma secreta para resolver um dos maiores problemas financeiros que as pessoas têm, que é a questão de guardar dinheiro, que é guardar o dinheiro automaticamente, porque daí você toma uma decisão", explica.
Deixar tudo no automático é simples e trabalha com uma ideia identificada nos estudos sobre escolhas: o poder da inércia. Segundo os pesquisadores Richard Thaler e Cass Sunstein, é possível utilizar esse poder de forma positiva.
O que seria isso? Pensa no seu Imposto de Renda: o que é mais fácil? Checar as informações da declaração pré-preenchida ou começar uma declaração do zero? Os especialistas falam que essa nossa tendência de querer tudo muito fácil pode ser usada a nosso favor, na criação de um contexto que nos ajude a tomar uma decisão.
Ou seja, quanto mais simples, automático e padrão for o seu nudge, maiores são as chances de você usá-lo.
Nudges para gastar menos e começar a investir
Se o seu objetivo é gastar menos, comprar menos por impulso, a professora Vera Rita dá algumas dicas.
"Para diminuir as compras por impulso e os gastos desnecessários, uma coisa é não chegar perto das tentações. Então, se passear no shopping te leva a fazer compras por impulso, não chega perto do shopping, ou se tiver de ir ao shopping por alguma razão, vai com tempo bem contado. Se gasta com site, então, para de seguir contas nas redes sociais que te deixam com vontade de comprar coisas", afirma a especialista.
A ideia é dificultar a sua vida quando o assunto é comprar.
Para quem quer começar a investir, um nudge que ajuda na construção desse hábito é deixar dinheiro separado de forma automática, como se fosse um boleto que você paga todo mês.
Para criar essas pequenas estratégias no seu contexto, você precisa se conhecer bem e fazer uma análise daquilo que realmente faz sentido para os seus objetivos.
Um ponto importante é que essas pequenas estratégias não podem ser muito complicadas ou elaboradas demais. Se começar a ficar difícil, a professora Vera Rita dá a dica: o caminho é simplificar.
Leia também
Como a Selic afeta o financiamento imobiliário?
Gastos escondidos em casa: 4 dicas para identificar e lidar com eles
Pis/Pasep: veja se você pode receber!
Este conteúdo faz parte da missão do Nubank de devolver às pessoas o controle sobre a sua vida financeira. Ainda não conhece o Nubank? Saiba mais sobre nossos produtos e a nossa história aqui.