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5 motivos por que a guerra impacta na alta dos combustíveis

Como um conflito do outro lado do planeta afeta o preço que você paga aqui no Brasil? A resposta está no petróleo. Entenda.
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Veículos para transportar pessoas e mercadorias, aviões capazes de atravessar oceanos. Essas são apenas algumas das incontáveis inovações que o petróleo possibilitou para a sociedade moderna – e que a gente depende no cotidiano. 

Desde que o primeiro poço de petróleo foi perfurado, em 1859, muita coisa mudou. Mas, apesar do mundo inteiro discutir e buscar outras fontes de energia, mais limpas e renováveis, o óleo extraído da terra ainda tem uma grande importância na economia global.

Ele é usado para fazer os combustíveis que abastecem carros, caminhões, aviões, veículos militares e para produzir inúmeros outros derivados, inclusive o plástico, tão presente na vida de qualquer pessoa. 

Os lucros do mercado de petróleo também são impressionantes. De acordo com uma pesquisa da empresa IBISWorld, a indústria global de exploração e produção de petróleo e gás deve chegar a US$ 2,2 trilhões em 2022, ou seja, é maior que o PIB da Itália, a 8ª maior economia do mundo. 

Diante de tanta importância, é natural que o petróleo afete diretamente a vida do brasileiro. Foi o que aconteceu no dia 10 de março de 2022, quando a Petrobras divulgou um aumento de 18,8% no preço da gasolina e de 24,9% no diesel.

O motivo desse reajuste está ligado ao preço do petróleo, que por sua vez tem tudo a ver com a guerra da Rússia contra a Ucrânia. Parece confuso?

Então confira, abaixo, algumas informações para entender o que está por trás da última alta nos combustíveis. 

1 - A guerra tem tudo a ver com o preço do petróleo

A Rússia é o terceiro maior produtor de petróleo do mundo, atrás apenas dos Estados Unidos e da Arábia Saudita. E, desde que o presidente Vladimir Putin ordenou o ataque à Ucrânia, no dia 24 de fevereiro, o preço do barril do petróleo disparou. 

Para se ter uma ideia, o valor do barril do tipo brent (óleo cru, antes do refino, extraído nos mares do norte da Europa) passou de US$ 95 no dia 21 de fevereiro para US$ 106 no dia 14 de março. No dia 8 de março, o preço fechou em quase US$ 128 – alta de quase 35%.

Esse aumento foi motivado principalmente pelas preocupações que uma guerra envolvendo a Rússia gerou no mercado. Diante das sanções econômicas impostas ao país por causa do conflito com a Ucrânia, existe o risco da oferta de combustíveis para outros países do Ocidente diminuir – ou até mesmo ser interrompida.

Nesse caso, a lei da oferta e da demanda impacta diretamente o preço da commodity. Em outras palavras, se a oferta cai por algum motivo e a demanda não se altera ou aumenta, os preços sobem.

Além disso, o preço do petróleo já vinha subindo mesmo antes da invasão da Ucrânia. A oferta mundial do produto já não era suficiente para a demanda global, que passa por uma retomada econômica após a pior fase da pandemia do coronavírus.

Sem falar que a incerteza que a guerra na Ucrânia gerou fez o planeta estocar petróleo. Com receio desse conflito afetar a produção em algum momento, os países começaram a encher o carrinho de barris, mas a produção não acompanhou esse ritmo.  

Vale destacar que vários países do mundo dependem do petróleo produzido pela Rússia, em especial a Europa.

Conflito russo também causou último recorde de preço

A última vez que o petróleo enfrentou uma disparada nos preços e chegou aos US$ 100 foi em 2014, quando a Crimeia, uma península ucraniana, foi anexada pela Rússia. Naquela ocasião, existia um medo de que a crise prejudicasse as principais rotas de suprimento de energia da Europa.

O território ucraniano também dá passagem a diversos gasodutos que abastecem a Europa com o gás extraído na Rússia. Na época, o preço do gás disparou e puxou junto o petróleo.  

Assim como acontece hoje, em 2014 também havia o temor de que sanções dos Estados Unidos e de outros países do ocidente pudessem interromper a oferta de petróleo russo.

2 - Somos autossuficientes em produção de petróleo (mas nem tanto)

O Brasil se declara autossuficiente na produção de petróleo. Mas, ainda assim, precisa importar uma pequena quantidade do produto de outros países.

Isso acontece porque existem no mercado qualidades distintas de petróleo. Por isso, apesar de extrair mais petróleo do que consome, o país não consegue refinar tudo o que precisa. Para conseguir suprir a demanda interna, compra um tipo de petróleo mais leve do que o produzido aqui, além de derivados como o diesel. 

Precisar importar petróleo de outros países faz com que o Brasil sinta os efeitos dos preços praticados no mercado internacional. A cotação do dólar também influencia diretamente. Mas não é só isso, como você verá a seguir.

3 - O preço dos combustíveis no Brasil refletem o mercado internacional

Até 2016, o próprio governo determinava os preços dos combustíveis praticados pela Petrobras. Foi nesse ano que a estatal alterou sua política de precificação, e adotou o chamado Preço por Paridade Internacional (PPI). 

Isso fez com que os preços dos combustíveis fossem vinculados ao mercado internacional, bem como à cotação do dólar do barril do petróleo do tipo brent, que sobe de forma mais intensa.

Lembra da greve dos caminhoneiros em 2018? Ela foi motivada pelas altas seguidas nos preços dos combustíveis que a Petrobras promoveu depois que mudou sua política de preços.

Em linhas gerais, o PPI leva em consideração os custos da importação, como transporte e taxas.

Foi por isso que, diante da disparada nos preços do petróleo intensificada pela guerra na Ucrânia, a Petrobras anunciou um aumento de 18,8% na gasolina e de 24,9% no diesel, no dia 10 de março de 2022.

Esse reajuste foi no preço de venda dos combustíveis para as distribuidoras. Em outras palavras, elas repassarão a alta para as revendedoras de gás de cozinha e combustíveis que, por sua vez, aumentarão os valores cobrados do consumidor final.

4 - Outras guerras já provocaram crises do petróleo

Não é de hoje que guerras provocam crises no mercado de petróleo. Isso já aconteceu em vários outros episódios, e o medo de desabastecimento acompanhado de preço nas alturas foram as principais consequências.

Uma das crises mais famosas aconteceu em 1973, quando estourou a guerra do Yom Kippur, em que Síria e Egito atacaram Israel. Os Estados Unidos apoiaram o governo israelense e, como represália, a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) subiu o preço do barril da commodity em 400%. Isso afetou a oferta e gerou uma crise mundial.

Em 1979, o segundo choque de petróleo foi provocado por uma redução na produção do insumo após a Revolução Iraniana. Na época, o país enfrentava muitos protestos contra o xá (título equivalente a rei ou imperador) do Irã, Mohamed Reza Pahiavi. Isso afetou o setor de petróleo do país. A produção foi bastante reduzida e as exportações pararam.

Tudo bem que o corte na oferta mundial de petróleo foi de apenas 4% aproximadamente. Mas o mercado financeiro é movido por expectativas. Assim, um pânico generalizado tomou conta do mundo e o preço do barril do petróleo dobrou. De novo, vários países registraram longas filas em postos de gasolina.

A partir de 1980, com o início de uma guerra entre Irã e Iraque que durou oito anos, a produção iraniana quase parou. No Iraque, ela foi severamente atingida. Os Estados Unidos e outros países como o Brasil sofreram com recessões econômicas e os preços do petróleo se mantiveram altos.

Os problemas também se repetiram entre 1990 e 1991, com a Guerra do Golfo. Na ocasião, o Iraque invadiu o Kuwait, um dos maiores produtores de petróleo do mundo, mas foi derrotado com a ajuda dos Estados Unidos.

Guerra dos preços

Se você acha que todas essas crises são coisas do passado, saiba que não é verdade. No começo de 2020, o preço do barril de petróleo estava baixo porque a demanda pela commodity caiu depois que a pandemia do coronavírus começou.

Para conter a queda dos preços, a Opep propôs reduzir a produção e, com isso, diminuir a oferta global de petróleo em 10%. Mas a Rússia não aceitou.

Em resposta, a Arábia Saudita aumentou a produção de petróleo, o que gerou maior oferta (em um momento de redução na demanda) e fez os preços despencarem. Vários países foram prejudicados pela queda nos preços, inclusive a Rússia.

No dia 12 de abril de 2020, em uma nova reunião, os membros da Opep e seus aliados entraram em acordo para reduzir a produção de petróleo em 9,7 milhões de barris por dia. Com isso, os preços voltaram a subir. 

5 - A guerra também causa inflação

A guerra na Ucrânia jogou gasolina no fogo da inflação mundial, que já vinha preocupando bancos centrais mundo afora mesmo antes do início do conflito. E a alta no combustível pode afetar ainda mais os preços de diversos produtos.

O analista do Nubank Eduardo Perez afirma que combustíveis mais caros disseminam a inflação por toda a cadeia produtiva, encarecendo fretes, custos de produção e as matérias primas. 

“Antes mesmo do início do conflito no leste europeu, a zona do Euro já registrava inflação de 5,8% em 12 meses no seu Índice de Preços ao Consumidor (IPC), enquanto os EUA registram alta de 7,9% no seu IPC e 6,1% no PCE, que é o índice de inflação mais usado pelo Fed (Banco Central Americano) para decisões de política monetária. Essa foi a máxima histórica na zona do Euro enquanto a inflação nos EUA é a maior em 30 anos”, explica.

E o Brasil não é exceção. Ou seja, a alta nos combustíveis foi o primeiro efeito, mas o brasileiro deve enfrentar uma inflação maior em decorrência do conflito na Ucrânia.

Os preços dos combustíveis vão continuar subindo?

Eduardo Perez explica que não é possível dizer como ficarão os preços dos combustíveis porque existem diversas variáveis nesse cálculo. 

O preço do petróleo, assim como outras commodities, varia conforme a demanda e oferta global. E ainda não se sabe como ficarão as exportações de petróleo da Rússia diante das sanções econômicas. 

Outra possibilidade é o grupo de países produtores de petróleo, a Opep, aumentar a produção de barris por dia. “Mesmo assim, ainda há o risco de o aumento não ser suficiente, pois a Rússia também faz parte da Opep e, no momento, os países podem preferir evitar atritos com o governo russo”, avalia Eduardo. 

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