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Crianças e jovens precisam estabelecer metas? Entenda como ajudar os seus filhos a alcançar os próprios objetivos

Não importa a idade: especialistas afirmam que ter metas é essencial para crianças e jovens crescerem com menos ansiedade, melhor senso do que é possível e com maior capacidade de espera.

Foto com fundo verde mostra alguns objetos espalhados: uma calculadora roxa, um celular, um fone roxo, uma caixa de clips brancos e parte de um globo.

Comprar uma casa, um carro, tirar um ano sabático, conquistar aquela promoção ou a independência financeira. Mesmo quem ainda não tem a organização das finanças mapeada e aplicada na rotina já pode ter ouvido falar que um dos primeiros passos de qualquer planejamento é estabelecer metas. 

Na vida adulta, é mais simples encontrar ferramentas que ajudem a determinar o que se quer e a separar o que de fato é um desejo individual daquilo que é puro efeito manada. O mesmo não se pode dizer de crianças e adolescentes.

As redes sociais, os influenciadores digitais e a necessidade natural de pertencer a um grupo podem determinar os desejos desses jovens, que ainda estão desenvolvendo as próprias estruturas emocionais – são elas, inclusive, que contribuem para diferenciar o que é dele e o que é do outro.  

Diante desse cenário, crianças e adolescentes precisam mesmo estabelecer metas, assim como os adultos? Para os especialistas em educação financeira, sim, mas de uma forma diferente. Abaixo, entenda como ajudar crianças e jovens a estabelecer metas e os efeitos dessa prática no desenvolvimento deles. 

Crianças e adolescentes precisam estabelecer metas? 

Sim. Segundo especialistas, estabelecer metas desde cedo é fundamental para o desenvolvimento de crianças e adolescentes, com efeitos positivos na fase adulta.

"O desenvolvimento de metas desde cedo ajuda o adulto em todas as áreas da vida, desde a ter mais segurança financeira, a discernir o que é possível e a ter capacidade de planejamento. Além disso, esse aprendizado contribui para a autoestima, uma vez que é necessário ter disciplina e organização para criar metas e atingi-las." 

Ahmed El Khatib, coordenador do Instituto de Finanças da Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado (Fecap)

Cássia D'Aquino, psicanalista e consultora financeira internacional para criação e desenvolvimento de programas de educação financeira, reforça que estabelecer metas também tem efeito calmante e contribui para a criação do senso de espera – fundamental em planejamentos de longo prazo.

"Quem não sabe o que quer da vida acaba se perdendo mesmo, porque não há nada que justifique ela deixar de comprar alguma coisa ou fazer alguma coisa. Por exemplo: se você tem o objetivo de fazer uma pós-graduação na Espanha, você tem maior disposição para controlar aquele consumo que não é importante. O bebê se desespera pela fome porque ele acha que não consegue esperar e é impressionante como tem adulto que vive no absoluto desespero", afirma.

"Para as crianças e adolescentes, as metas têm efeito calmante, porque eles sabem que, depois dessa espera, existe uma recompensa no final. E quanto menor for a criança, mais vale a pena usar recursos como um calendário para ela anotar quanto tempo falta para conquistar essa recompensa." 

Cássia D'Aquino, psicanalista e consultora financeira internacional para criação e desenvolvimento de programas de educação financeira

Como ajudar crianças e adolescentes a estabelecer metas?

Antes de ajudar os seus filhos a estabelecer metas, os especialistas recomendam que os pais deem atenção à própria maneira de lidar com o dinheiro e com o planejamento familiar. "A maneira como crianças e adolescentes se relacionam com o dinheiro é reflexo de como os pais lidam com ele. Por isso, é importante que a gente seja capaz de estabelecer metas antes de falar sobre elas com os filhos", considera D'Aquino. 

Confira algumas recomendações de como ajudar seus filhos a estabelecer as próprias metas. 

Criar metas em família pode ajudar a introduzir o conceito de plano  

A maneira como os pais lidam com os objetivos pode influenciar as crianças e os adolescentes. Por isso, os especialistas recomendam que esse aprendizado seja introduzido a partir de atividades em família. Ao construir esses planos, segundo D'Aquino, é importante atribuir responsabilidades para os filhos.  

"Todo mundo precisa fazer parte dessa conversa e cada um pode ter uma responsabilidade. Não pode ser algo passivo. Ao mostrar que é preciso colocar ação para que algo seja realizado, você ensina sobre a importância dos objetivos", afirma. 

O ponto de atenção dessa estratégia é atribuir funções e atividades possíveis e que conversem com a idade dos seus filhos. "Eles precisam se sentir capazes", diz a psicanalista. 

Por exemplo: no planejamento de uma viagem, os filhos adolescentes podem ficar responsáveis por pesquisar atividades, preços das passagens etc. Já as crianças menores podem ser incentivadas a guardar determinado valor num cofrinho para comprar o lanche ou pagar por um passeio específico. E quanto menor for o seu filho, mais divertida e lúdica precisa ser essa responsabilidade. Neste caso, as brincadeiras podem ajudar.  

Incentivar a criação de listas de desejo dá autonomia 

Tanto para crianças como para adolescentes, os especialistas recomendam incentivar a criação de uma lista de desejos e vontades. E esse incentivo muda de acordo com a idade de cada um. 

"Nos primeiros anos, a criança não tem muita gerência sobre as decisões dela. Nesse caso, os pais podem ensinar conceitos básicos, como estabelecer metas de consumo do supermercado, por exemplo. Ou pedir uma contrapartida em troca de algo que a criança quer, como um brinquedo novo. Isso também pode funcionar com adolescentes, mas é preciso ajustar a recompensa à faixa etária", explica El Khatib, da Fecap. 

Para as crianças, essa lista de desejos pode ser em forma de desenho, por exemplo, para que a atividade seja interessante e lúdica. Já para os adolescentes, a recomendação é que os pais conduzam os filhos a refletirem sobre o que eles realmente querem, a pesquisarem os custos e estabelecerem prioridades e prazos. 

Além disso, os especialistas recomendam que eles sejam parte da estratégia de como chegar lá e não apenas que apresentem a lista aos pais. Por exemplo, os pais podem incentivar os adolescentes a usarem a mesada ou o dinheiro recebido de terceiros, como avós ou tios, para acelerar a realização das prioridades que eles definiram. 

Quer saber mais sobre como e quando dar mesada? Ouça o podcast abaixo: 

https://www.youtube.com/watch?v=mNc8PHqoI7M

Dosar a vontade de acelerar as metas dos filhos os ajuda a aprender sobre o processo

É natural, nesse processo, que os pais tenham o impulso de entrar com uma parte do dinheiro para acelerar a realização de alguma meta dos filhos. Contudo, os especialistas recomendam dosar essa vontade. 

"Os pais precisam ajudar as crianças e os adolescentes a criarem objetivos possíveis, que eles sejam capazes de alcançar com aquele dinheiro da mesada, por exemplo, para que eles sintam que têm capacidade poupadora, mas precisamos prestar atenção para não ficarmos aflitos caso os filhos tenham aquela angústia de chegar lá logo. Deixa eles conquistarem a meta, mesmo que você tenha dinheiro para acelerá-la, porque eles estão aprendendo com o processo", afirma D'Aquino. 

Segundo ela, quando os pais ajudam os filhos para que eles tenham aquilo que querem mais rápido, eles tiram o prazer daquela criança ou adolescente de ter conquistado algo sozinhos – sentimento importante para o desenvolvimento da autoconfiança deles. 

Contrapartidas precisam fazer sentido e ser medidas de acordo com a idade dos seus filhos

Como crianças e adolescentes não geram renda, é comum e recomendável que o dinheiro que vai ser direcionado para alguma meta deles venha da mesada e de atividades extras estabelecidas pelos pais, como alguma tarefa da casa, por exemplo. 

No entanto, essas atividades precisam ser compatíveis com a idade dos seus filhos e também não podem ser aleatórias. Colocar uma criança pequena para lavar uma louça, por exemplo, não faz sentido e pode até ser perigoso, mas essa tarefa, para um adolescente, pode ensinar sobre a responsabilidade de cuidar de uma casa. 

Além disso, os especialistas enfatizam que atividades que são obrigações dos filhos e que fazem parte da rotina de responsabilidades deles não podem ser recompensadas, como é o caso de tarefas da escola, arrumar o quarto, cuidar do cachorro e outras tarefas combinadas com os pais. 

"Minha mãe, por exemplo, me recompensava não por cada livro que eu lia, mas por contar para ela o que eu tinha entendido daquela leitura", exemplifica El Khatib. 

As metas dos seus filhos não precisam ser apenas relacionadas ao consumo 

Outro cuidado na hora de ajudar os filhos a estabelecer metas é tentar mostrar que o consumo não é o único meio de realização. 

"É importante já abordar o consumo consciente com os filhos desde cedo, para que eles entendam que não se pode ter tudo e que existem elementos que podem ser mais importantes e que geram até mais prazer do que um objeto, como uma experiência com os amigos ou com a família."

El Khatib, da Fecap

E mesmo quando a meta envolve dinheiro e consumo, faz sentido ajudar as crianças e os adolescentes a não focarem no produto ou no serviço em si, mas naquilo que eles podem proporcionar. Por exemplo: se o adolescente quiser um novo vídeo game, é recomendado estimular que ele direcione a meta para os momentos divertidos que ele vai ter com os amigos e com os pais. Dessa forma, ele já começa a assimilar que o mais importante não é o consumo, mas o que se faz com ele.  

Metas de crianças e metas de adulto: cuidados para não criar expectativas irreais 

Nem toda meta estabelecida por uma criança ou adolescente é possível, e os pais não precisam mentir para elas sobre isso. No processo de falar sobre objetivos, é importante deixar claro que nem tudo é possível e que muita coisa só pode ser alcançada no longo prazo. 

"Transparência é tudo nessa relação. Fantasiar, iludir e mentir não é o melhor caminho. É um mito achar que eles não vão entender. Eles vão, mas é necessário quebrar esse tabu primeiro entre os pais e, depois, passar para os filhos. Para uma criança, é mais delicado falar sobre escassez e frustração. No caso do adolescente, essa conversa é mais fluida", diz El Khatib. 

Para facilitar essa conversa, os especialistas recomendam introduzir conceitos como necessidade, desejo e tempo, e também explicar sobre as possibilidades do presente. Por exemplo: está tudo bem dizer que uma meta não é possível por ser muito cara, mas que existem alternativas parecidas e mais realistas. 

Com os adolescentes, os pais podem ser mais diretos na abordagem e explicarem que existem fatores externos que podem impedir esse jovem de conquistar o que ele quer. Contudo, é recomendável que os pais dosem essa frustração reforçando a importância de fazer aquilo que é possível e que está sob o controle dos adolescentes.

Seus filhos não precisam aprender tudo agora 

É inegável os ganhos que a educação financeira infantil e para jovens proporcionam no desenvolvimento dos seus filhos, mas nunca é demais reforçar que, no fim, eles são apenas crianças e adolescentes. Em outras palavras, não estabelecer metas cedo não é uma sentença de que eles não vão ser adultos responsáveis com dinheiro. 

As atividades e conversas sugeridas só valem a pena se permitirem uma conexão lúdica e sem cobranças com os seus filhos. Caso contrário, o assunto pode se transformar num momento tenso, chato e sem sentido para toda a família. Por isso, está tudo bem ir com calma ou esperar um outro momento para falar sobre isso com os seus filhos. 

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