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Um plano para se aposentar mais cedo: conheça o Movimento FIRE

Parar de trabalhar para viver de renda é o sonho de muita gente. Conheça o Movimento FIRE, que propõe economia linha dura para chegar no objetivo – o quanto antes

Ter dinheiro o suficiente para não precisar mais se preocupar com ele: essa é a meta de vida de muita gente. Para a maioria da população, no entanto, esse cenário é impossível – e, se acontecer, deve chegar mais pro final da vida.

Mas existem pessoas decididas a romper com essa lógica e parar antes, por volta dos 40 anos. É o chamado FIRE Movement, sigla para "Financial independence, retire early", ou "Independência financeira, aposentadoria adiantada", em português. As pessoas que aderem a esse movimento se dispõem a guardar quase tudo o que ganham para poder realizar o sonho da aposentadoria própria. 

A ideia é que quando chegam a um determinado valor, passem a viver só de rendimentos do que foi investido. O mais comum é seguir a velha regra dos 4%, em que a pessoa só pode sacar no máximo 4% dos investimentos por ano para preservar o valor total de diminuir com o tempo.

Para isso, é preciso estar disposto a abrir mão daquela pizza de sexta à noite, de um cinema no fim de semana, do réveillon com os amigos na praia...Os adeptos do FIRE vivem por anos apenas com o que é essencial para chegar lá. 

Será que vale a pena tanto sacrifício? Quem são essas pessoas? Conheça mais sobre o movimento dos jovens aposentados.

https://www.youtube.com/watch?v=KyP34-qyp8U

Como surgiu o Movimento FIRE?

Em um livro de 1992 chamado "O Dinheiro ou a Vida", os autores Vicki Robin e Joe Dominguez ensinam 9 passos para melhorar sua relação com o dinheiro. Foi aí que nasceu a semente do Movimento FIRE.

A obra traz algumas reflexões importantes sobre o uso do dinheiro, dá dicas de como sair das dívidas e ser financeiramente independente. Os autores dizem que é um guia para repensar a forma como as pessoas ganham, guardam, e gastam dinheiro. Até aí nada diferente de um livro de educação financeira.

Mas os autores também filosofam sobre como a vida moderna é materialista, e sobre como a receita para uma vida feliz não passa necessariamente pelas conquistas financeiras. Eles propõem uma reflexão: compare o tempo que você trabalha para ganhar o seu salário com o valor que paga pelas coisas. 

Nessa perspectiva, uma TV nova pode ter custado 27 dias do seu esforço. Será que vale a pena? A partir da reflexão que o livro despertou em muita gente surgiu a faísca do Movimento FIRE.

Alguém para levar o desafio a sério

Em 2010, o canadense Peter Adeney fundou um blog chamado Mr. Money Mustache, algo como Sr. Bigode de Dinheiro, em português. Ele se tornou um sucesso porque conseguiu se aposentar aos 30 anos e passou a compartilhar seus conselhos para quem quiser fazer o mesmo. Mas as coisas não são tão simples quanto parecem.

Para começar, Peter é um verdadeiro mão de vaca. Em uma matéria que a revista New Yorker publicou sobre ele, em 2016, ele disse que se lembra das duas únicas vezes em que desperdiçou recursos.

Peter era um programador de software que decidiu guardar absolutamente tudo o que pudesse e reduzir ao máximo seu consumo. Se precisasse de algum reparo em casa, ele mesmo faria. O pão duro profissional projetou e construiu coisas da própria casa só para não pagar pelo serviço de alguém. 

Para ele, o estímulo disso tudo é reduzir ao máximo o consumo para tornar o planeta um lugar mais sustentável. Por aí você já tem uma pista de que o movimento FIRE não é sobre se aposentar com luxo, champanhe e caviar. É sobre se aposentar rápido e, assim, ter tempo para perseguir seu propósito de vida sem precisar se preocupar com dinheiro para as necessidades básicas. 

Mais do que se aposentar, o movimento também dá uma missão clara e foco - o que pode levar a melhoras na saúde. Uma pesquisa de 2019 revelou que, entre 7 mil pessoas estudadas, aquelas que tinham um propósito de vida desenvolveram menos doenças cardiovasculares. Ou seja: quando a gente segue um propósito, vive mais e melhor.

Como é o dia a dia de um aposentado do FIRE?

Em uma entrevista para a rede CNBC, o casal Steve e Courtney Adcock mostrou detalhes do seu dia a dia em um pequeno sítio nas imediações de Tucson, no estado do Arizona, sul dos Estados Unidos. Sim, para reduzir custos eles não moram no centro de uma grande cidade. Quando a dupla parou de trabalhar, Steve tinha 35 anos e Courtney 33. 

Mas para chegar lá, eles se mudaram para um motorhome, aquelas casas dentro de um carro, e jogaram as despesas lá embaixo. Steve vendeu todos os seus carrões e motos; ambos só podiam gastar US$ 50 por mês em restaurante; serviços de streaming ficaram no passado.

Hoje, já aposentados, o casal continua com a rotina restrita. Juntos, eles têm à disposição US$ 2.500 para gastar com tudo o que for preciso. Eles calculam que, do montante total das despesas, cerca de US$ 1.000 vai para alimentação – somando compras no supermercado, vegetais de fazendeiros vizinhos, uma visita ou outra a restaurantes e happy hours que eles gostam de fazer. 

Os custos de saúde saem por volta de US$ 500 por mês, e a solução encontrada foi cruzar a fronteira com o México para salvar uns trocados. A energia elétrica é apenas a gerada pelas placas solares, e a água é bombeada para uma cisterna – ambas com custo zero. E os impostos de moradia são bem mais baixos por estarem em uma zona rural.

Um fato curioso é que, mesmo não tendo obrigações, eles tentam manter uma rotina porque perceberam que faz bem. A diferença é que Steve e Courtney escolhem a maior parte das coisas que querem fazer com seu tempo, e não o que precisam.

O que eu preciso fazer para me juntar ao Movimento FIRE?

Em primeiro lugar, são poucas as pessoas que conseguem espaço no orçamento para poupar. Uma pesquisa de 2019 do CNDL/SPC mostrou que 67% dos brasileiros não conseguem guardar dinheiro. Em agosto de 2021, a Confederação Nacional do Comércio divulgou que 72% dos consumidores estão endividados.

Nos grupos de FIRE nas redes sociais, existe um consenso de que o ideal é poupar cerca de 70% do salário. Então mesmo para quem pode guardar, a vida de privações também não é pra qualquer um. Mas como é na prática a vida de alguém que participa desse movimento? O Eduardo Darim, que é Engenheiro de Software aqui no Nubank, tem 35 anos, e se esforça para ser um aprendiz de aposentado.

Tudo começou em 2015. Desde então, ele começou a guardar o dinheiro que recebia e foi aprendendo como funcionava o mundo dos investimentos. Sobre as privações, ele admite que não é fácil mesmo. Se tivesse um carro, o trajeto entre a casa e o trabalho levaria menos da metade do tempo. Mas ele preferiu não gastar com isso. Darim acredita que ter um objetivo claro ajuda a seguir num caminho mais econômico, e motiva a gastar com coisas que no fundo são desnecessárias.   

"Se você pensa que aquilo é um prazer momentâneo, talvez faça sentido dar um passo para trás, olhar de uma forma mais ampla e pensar: 'será que esse prazer vai me satisfazer mais do que lá na frente quando eu puder ter liberdade financeira?'".

No dia a dia, ele repensa as escolhas o tempo todo. Se precisa comprar uma roupa nova, prefere a mais barata. "Claro, essa privação não precisa ser completa, né?", diz Darim.

As críticas ao Movimento FIRE

Sim, existe uma enxurrada de críticas que jogam água no FIRE. Uma matéria publicada no jornal The New York Times em 2019 trouxe diversas mulheres, em especial mulheres negras, que seguem algum tipo de programa de aposentadoria precoce, mas acham o FIRE pouco realista. 

Uma das entrevistadas lembra que nesses orçamentos enxutos, as pessoas se alimentam de uma dieta nada saudável, o que pode causar danos caríssimos à saúde mais tarde. Ou, então, que deixam de ajudar algum familiar em situação complicada.

Vale lembrar que o FIRE tem como princípio guardar ao máximo e investir – e as mulheres, por exemplo, são minoria entre os investidores. Segundo dados da B3, a bolsa de valores de São Paulo, só 26% das pessoas que investem lá são do sexo feminino.

Mais um ponto de debate é sobre a regra dos 4%. Criada pelo planejador financeiro americano William Bengen, em 1994, ainda é avaliada por especialistas como uma estratégia válida. Mas eles alertam: seria mais seguro reajustar essa porcentagem de acordo com alguns indicadores que variam todo ano, como a inflação.

Há também quem questione o FIRE com o argumento da progressão da renda. A tendência é de que o salário aumente conforme os anos de estrada no mercado. Então, teoricamente, quando você estiver no auge do salário, por volta dos 40 anos, fica menos difícil guardar. Por exemplo: se você tem um salário de R$ 1 mil, guardar 70% dele é muita coisa. Mas guardar 70% de um salário de R$ 10 mil ainda te deixa com 3 mil, e o sacrifício é menor.

É importante lembrar, ainda, que existe uma correlação entre dívidas e saúde mental. Claro que viver economizando dinheiro não é a mesma coisa do que ter dívidas. Mas, em alguma medida, a economia exagerada pode ser motivo de stress e ansiedade. 

Um estudo de 2016 do Instituto de Políticas sobre Dinheiro e Saúde Mental mostrou que a saúde financeira abalada pode levar a uma série de problemas como ansiedade e depressão. 

Devo desistir de me juntar aos jovens aposentados?

Depende da sua realidade financeira e disposição. Uma boa ideia para começar é fazer uma listinha das exigências que esse tipo de projeto tem, os riscos, os prós e os contras. 

Não tente dar um passo maior do que a perna: antes de mais nada, tenha certeza de que suas dívidas estão pagas, e que esse é um plano que faz sentido na sua vida.

A maior lição desse movimento é que todo mundo pode e deve repensar seus gastos. E que guardar dinheiro, quando possível, garante tranquilidade futura. Pensando em investimentos, seu objetivo pode ser menos ambicioso, como fazer uma reserva de emergência generosa ou mesmo comprar um imóvel.

O importante é sempre poupar o que for possível e ter objetivos claros. Se isso for uma aposentadoria precoce, boa sorte. Se isso significar apenas sair da insegurança financeira, tudo bem também. Sua vida, suas regras.

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