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Qual é o valor do salário mínimo? Veja quanto vale o que você ganha

O que você comprava há um ano já não compra hoje. Veja quanto vale o salário mínimo de 2022, e quanto valia em 2021 e em 2020.
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Em janeiro de 2022, o salário mínimo passou de R$ 1.100 para R$ 1.212. Mas os R$ 1.212 de hoje já não são os R$ 1.212 do início do ano, e o que você costumava comprar há um ano já não compra agora. É o seu poder de compra sendo corroído pelo aumento de preços – em outras palavras, pela inflação. Mas qual é o valor do salário mínimo? Quanto ele vale de verdade hoje?

É por causa da inflação que você entra no mercado com o mesmo dinheiro, mas sai com cada vez menos sacolas. Ou seja, os preços mais altos de produtos e serviços comprometem uma parcela cada vez maior do que você ganha.  

Contudo, para quem recebe um salário mínimo, a situação é ainda mais complicada. 

Enquanto o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) acumulou uma alta de 10,06% em 2021, o INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor) subiu um pouco mais, 10,16% no mesmo período.

O IPCA é considerado o índice oficial da inflação do país. Ele mede a variação de preços de produtos e serviços consumidos por quem recebe de um a 40 salários mínimos. Como o nome diz, ele é "amplo" e não leva em conta algumas especificidades de comportamento de consumo: afinal, quem ganha 40 salários mínimos não tem o mesmo padrão de consumo de quem ganha um salário mínimo. 

Já o INPC existe para entender o impacto mais real do aumento de preços na renda de quem ganha menos. Ele mede a inflação da cesta de consumo de quem recebe de um até cinco salários mínimos. É este indicador que ajuda a determinar o valor do salário mínimo.

Ou seja: o fato de o INPC estar mais alto que o IPCA mostra que as famílias mais pobres estão sendo ainda mais impactadas pela inflação.

Inflação e renda: qual a relação entre elas?

Dependendo do seu salário, você sente a inflação de forma diferente. No IPCA, por exemplo, preços de itens de lazer, como passagens de avião ou mesmo alimentação fora de casa, são levados em consideração. Já no INPC, esses itens entram na conta, mas têm peso menor no índice geral. 

Por que essa diferença de peso? Porque a inflação afeta as pessoas de forma diferente, dependendo de quanto elas ganham e com o que elas gastam. Mesmo pessoas que ganham bem acima da renda média do trabalhador são impactadas pela alta dos preços, mas de forma diferente entre si e em comparação a quem ganha menos. 

Ou seja, alguém que ganha 10 salários mínimos, por exemplo, e que costuma viajar muito e só come fora de casa, sente o impacto da inflação de um jeito diferente em relação a quem ganha os mesmos 10 salários mínimos, mas não costuma comer fora e nem viajar.  

O que pesa mais para quem ganha um salário mínimo?

Quem ganha menos, porém, tende a consumir uma cesta de produtos e serviços parecida. É que com a renda limitada, a prioridade é por itens básicos, como alimentação e habitação. Assim, parece que o valor do salário mínimo é menor. 

"A maior preocupação dessa família é colocar comida em casa. Quanto mais pobre ela é, mais concentra os gastos em alimentos, que subiram mais do que a inflação média, mais do que o preço de todos os outros produtos", afirma o economista André Braz, coordenador do Índice de Preços ao Consumidor (IPC) do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre-FGV).

Alimentação e habitação foram justamente os grupos que apresentaram as maiores altas de preços e que comprometeram o salário de quem ganhou pouco neste ano.  

Comer em casa ficou mais caro em 2021

Os produtos de mercado (alimentação fora de casa) aumentaram 6,77% ano passado, segundo o INPC. Gastos com transportes, por sua vez, aumentaram 19,29% no mesmo período.

Somente a energia elétrica ficou quase 20,47% mais cara e o gás de botijão mais de 36%.   

Veja abaixo os grupos que apresentaram as maiores altas do INPC, a inflação que mais afeta quem ganha pouco. Os dados são referentes a 2021.

GruposInflação
Alimentação e bebida7,71%
Habitação13,85%
Artigos de residência12,74%
Vestuário9,94%
Transportes19,29%
Fonte: IBGE

Qual o valor do salário mínimo?

Para se ter uma ideia do impacto da inflação no orçamento, em novembro, um trabalhador de Florianópolis (Santa Catarina), por exemplo, pagou R$ 710,53 por uma cesta básica. Isso significa que ele gastou 69,83% de um salário mínimo para comprá-la.

Em janeiro, essa mesma cesta custava R$ 651,37 e comprometia 64% da renda. Já em novembro de 2020, ela custava R$ 616,98 e comprometia 63,83% do salário mínimo daquele ano, de R$ 1.045.

Em outras palavras: conforme a inflação foi subindo (e o salário não foi acompanhando), uma mesma pessoa compromete um pedaço cada vez maior da sua renda para comprar a mesma coisa. Com outras necessidades básicas também aumentando de preço, a conta fica cada vez mais desequilibrada.

Os dados são do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Econômicos), que calcula, todos os meses, o custo da cesta básica em 17 capitais do Brasil. Segundo o departamento, essa cesta é composta por 13 produtos alimentícios "em quantidades suficientes para garantir, durante um mês, o sustento e bem-estar de um trabalhador em idade adulta". 

Ou seja, esse custo e comprometimento do salário mínimo leva em conta apenas uma pessoa. Se esse trabalhador de Florianópolis for a única pessoa com renda em uma casa com mais gente, o orçamento não fecha. Com um salário mínimo, ele não consegue comprar duas cestas básicas completas, por exemplo. 

Com inflação, salário mínimo não rende 

Florianópolis é a cidade com a cesta básica mais cara do país em novembro (último dado disponível). Mas mesmo a cesta mais barata, encontrada em Aracaju (R$ 473,26), no Sergipe, pesa no orçamento de uma família com mais de três pessoas em casa. 

"O ideal é que os gastos com alimentação não comprometam uma parcela tão significativa do orçamento, porque há outros gastos, como aluguel, energia, transporte, água, gás. Mas quando a gente coloca na ponta do lápis, a conta não fecha", afirma Naiara Leite dos Santos Sant’Ana, professora de Contabilidade da Universidade Federal do Ceará.

Confira abaixo quanto você gastava de um salário para comprar uma cesta básica nas 17 capitais analisadas pelo Dieese em novembro de 2021 e em novembro de 2020. Essa porcentagem é calculada com base no valor da cesta em relação ao salário mínimo vigente em cada mês.

Capital% do salário necessário para comprar a cesta em nov. 21% do salário necessário para comprar a cesta em nov. 20
Florianópolis69,83 63,83
São Paulo 68,0465,09
Porto Alegre67,3563,83
Vitória65,6762,75
Rio de Janeiro65,42 65,14
Campo Grande63,41 60,94
Curitiba62,8056,62
Brasília62,1159,24
Goiânia58,93 57,67
Belo Horizonte58,47 57,14 
Fortaleza 57,0455,80
Belém54,12 50,33 
Recife51,5747,90 
Natal 51,21 47,12
João Pessoa50,0247,06
Salvador49,72 50,50 
Aracaju 46,5146,69 
Fonte: Dieese

O que o salário mínimo compra agora? 

Em primeiro lugar, quando a gente coloca uma lupa nos preços de cada produto, é possível enxergar melhor como a inflação afeta o nosso poder de compra. 

Por exemplo: em novembro de 2020, um pacote de café de 500 gramas custava, em média, R$ 7,42 na cidade de São Paulo. Ou seja, com o salário mínimo de 2020 era possível comprar 140 pacotes na capital paulista. 

Já em novembro deste ano, o valor médio do café ficou em R$ 11,49. Mesmo assim com o salário mínimo um pouco mais alto, você compra menos café: 95 pacotes, ou 45 a menos do que era possível comprar há um ano. 

Na cidade, uma dúzia de ovos custava R$ 7,09 em novembro passado. Em outras palavras, era possível comprar 147 dúzias de ovos com um salário mínimo. Em novembro de 2021, a média do preço do ovo em São Paulo ficou em R$ 8,24 – o poder de compra passou a ser de 133 dúzias de ovos na cidade. 

Os preços médios do café, dos ovos e de outros produtos que compõem a cesta básica em São Paulo são levantados todo mês pelo Procon-SP

Um dos produtos que mais subiram, não apenas na cidade de São Paulo, mas em todo o país, é a carne. Segundo o IBGE, nos últimos 12 meses, até novembro, as carnes vermelhas em geral aumentaram 10%. Aves e ovos dispararam 27%.

O levantamento do Procon-SP mostra que, em novembro de 2020, a carne de segunda sem osso custava R$ 29,73 o quilo em São Paulo. Em novembro deste ano, o preço passou para R$ 34,02. 

Veja quantos quilos de carne era possível comprar com um salário mínimo nos últimos cinco anos, considerando os preços da cidade de São Paulo, e o salário mínimo nacional de cada ano. 

Existe um salário mínimo ideal?

Com base nos valores da cesta básica e levando em consideração outros gastos que garantem o bem-estar do trabalhador, como habitação, vestuário, higiene e transporte, o Dieese também calcula mensalmente quanto deveria ser o salário mínimo ideal. 

Esse valor está bem longe dos atuais R$ 1.100: em dezembro, ele deveria ser de R$ 5.800,98. Veja a evolução do salário mínimo ideal frente ao salário mínimo efetivo nos últimos cinco anos.  Arraste para o lado para checar todos os anos.

20172018201920202021
Salário mínimo nominalR$ 937R$ 954R$ 998R$ 1.045R$ 1.100
Salário mínimo idealR$ 3.585,05 (dezembro)R$ 3.960,57 (dezembro)R$ 4.342,57 (dezembro)R$ 5.304,90 (dezembro)R$ 5.800,98 (dezembro)
Fonte: Dieese

Para Braz, a distância entre o salário mínimo efetivo e o ideal está na conta da distribuição de renda. "A renda no Brasil ainda é muito concentrada e parte dessa concentração tem a ver com os investimentos em educação. Olhando para o nosso PIB, por ano cada brasileiro teria algo em torno de R$ 3 mil, mas a distribuição é ruim e a maioria ganha um salário muito baixo", afirma. 

De acordo com ele, uma forma de diminuir essa desigualdade é investir em educação para que, com o tempo, o país gere mais riqueza e a renda média do trabalhador suba. Segundo os últimos dados do IBGE, a renda média do trabalhador brasileiro está em R$ 2.459. 

O salário não acompanha a inflação?

É só dar uma volta em um supermercado para ouvir alguém dizer que "tudo aumenta, só não o salário". Base para a remuneração de quem tem a carteira de trabalho assinada, é pensionista do INSS ou aposentado, o salário mínimo é reajustado uma vez por ano.  

O indicador que atualiza esse valor é justamente o INPC, aquele indicador que mede a inflação de quem recebe até cinco salários mínimos.

Mas por que o salário mínimo é reajustado apenas uma vez por ano se a inflação corre solta? Por causa do teto de gastos

Da mesma forma que você precisa planejar suas contas para chegar ao fim do mês no azul, o governo também precisa prever receitas e despesas para ficar dentro de um limite saudável de gastos. Por isso, todos os anos, ele envia ao Congresso uma proposta de Orçamento para o ano seguinte. E nessa proposta já consta uma previsão de aumento do salário mínimo.  

"O reajuste do salário tem relação com o PIB e com os gastos do país. É preciso fazer uma previsão orçamentária desse reajuste e lembrar o impacto nas contas públicas: R$ 1 de aumento tem impacto, porque esse reajuste vale para os aposentados e pensionistas", explica Naiara Sant’Ana, da Universidade Federal do Ceará.

Para Braz, da FGV, o reajuste do salário mínimo pelo INPC corrige o valor. O problema está na inflação que está muito fora da curva neste ano. 

"Quem ganha um salário mínimo, mesmo recebendo um reajuste com um indicador mais orientado para famílias de baixa renda, que é o INPC, não se sente protegido, porque os alimentos básicos subiram mais", afirma Braz.  

E o salário mínimo de 2022?

O salário mínimo de 2022 foi aprovado em R$ 1.212. Em agosto, o governo enviou ao Congresso a proposta de Orçamento para o próximo ano. O texto previa um salário mínimo de R$ 1.169 -- o que representa uma alta de 6,27% frente aos atuais R$ 1.100. 

Contudo, a gente viu que o salário mínimo é atualizado pelo INPC, e o indicador fechou o ano de 2021 em 10,16%. A inflação maior provocou a mudança no valor do salário mínimo.

Confira abaixo a evolução do salário mínimo frente ao aumento da inflação oficial e da baixa renda nos últimos 10 anos. 

O salário vai render em 2022?

Para 2022, Braz projeta uma situação melhor para quem ganha pouco, e é possível que o valor do salário mínimo renda mais. 

"A gente já percebe que alguns alimentos que foram vilões da inflação começam a apresentar queda nos preços, como milho e soja. Não comemos diretamente milho e soja, mas os animais cuja carne a gente come se alimentam de rações que têm como base o milho e a soja. Se esses grãos ficam mais baratos, eles ajudam as proteínas a ficarem mais baratas", explica. 

A energia, que está corroendo o salário mínimo, pode aliviar a pressão no orçamento em 2022. "Em maio do ano que vem, a expectativa é de que a gente tenha uma bandeira tarifária menos onerosa. Isso já produziria uma queda no preço da energia, o que vai nos ajudar muito a conter o avanço dos preços", avalia. 

O próximo ano também deve apresentar os efeitos do aumento da taxa Selic. Para controlar a inflação, o Banco Central já subiu a taxa de juros neste ano de 2% para 9,25% ao ano, mas o efeito desse aumento demora de seis a nove meses para ser sentido na economia. 

Braz reforça que as mudanças não vão acontecer de forma rápida. "Os preços não vão mudar da noite para o dia. Primeiro eles param de subir e depois caem um pouco. A gente não espera uma volta aos preços praticados antes da covid-19, mas se os alimentos pararem de subir, isso já melhora a qualidade de vida de quem ganha muito pouco", diz. 

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