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Como e quando começar a dar dinheiro para as crianças?

Vai chegar o dia em que as crianças começarão a lidar com dinheiro. Então qual é o melhor jeito de fazer isso? A partir de que idade? E quanto dinheiro dar a elas? Conheça as melhores práticas sobre o assunto.

Dia das crianças faz um monte de gente se lembrar dos brinquedos. Eles eram tão esperados e desejados que, quando chegava o 12 de outubro, era só alegria de receber aquele mimo… E ele custou algum dinheiro, certo?

Mas e se a criança pudesse ter comprado seus próprios brinquedos? Calma, ninguém está falando sobre trabalho – criança tem que estudar e ponto final. Mas sim daquele dinheirinho que os pequenos podem ir juntando com a mesada que a família dá com regularidade e, economizando daqui e dali, consegue entender o valor de uma compra. Isso também é educação financeira.

https://www.youtube.com/watch?v=mNc8PHqoI7M

Veja, abaixo, o que dizem algumas pesquisas e as dicas de uma especialista em investimentos e educação financeira.

Teoria e prática 

Um estudo da Universidade do Arizona descobriu que o melhor jeito de aprender a lidar com finanças é na prática, administrando seu próprio dinheiro. Claro que a chamada socialização pelo dinheiro, com exemplos e lições dos pais, continua sendo fundamental. Mas a descoberta é que não tem nada como a mão na massa para entender de verdade os segredos financeiros.

Muitos pais têm dúvidas de como fazer isso e, às vezes, mesmo podendo, acabam não dando dinheiro para os filhos. São muitas perguntas mesmo. Qual é o melhor método: mensal ou semanal? Será melhor vincular esse dinheiro ao cumprimento de tarefas da casa e da escola? Ou não? Quando começar? Quanto dinheiro dar?

Como agem os pais brasileiros?

Dinheiro é tabu para 54% dos brasileiros, segundo uma pesquisa do instituto Mindminers. Então se presume que o assunto não seja muito explorado pelos pais na hora de educar os filhos, certo? Errado!

Uma pesquisa sobre finanças infantis que a Serasa fez, em 2021, em parceria com a Opinion Box, mostrou que 85% dos pais pesquisados ensinam os filhos sobre a importância de ter uma relação saudável com o dinheiro.  E mais: 76% deles afirmam explicar para as crianças a importância de se poupar e investir.

Pensando no futuro dos pequenos, a pesquisa mostrou que 46% investem algum dinheiro para garantir um amanhã mais tranquilo, e outros 51% disseram que não fazem isso, mas que pretendem.

Sobre dar mesada ou não, os pais se dividem meio a meio: metade dá uns trocados, metade não dá nada. A principal motivação dos pais que escolhem dar mesada é ensinar a lidar com o próprio dinheiro, seguido de ensinar a economizar para ter autonomia financeira. Entre os que não dão, a justificativa é que eles querem ensinar os filhos a conseguir seus recursos por esforço próprio, e também por acharem que são muito novos para lidar com essa grana.

Angela Tosatto, especialista em investimentos e educadora financeira do Nubank, opinou sobre dar ou não o dinheiro para as crianças.

"Eu acho que é super importante iniciar a educação financeira o quanto antes, claro, para quem tem a possibilidade e para quem tem esse conhecimento porque tudo o que a gente começa a fazer na infância se torna um hábito e, na vida adulta, a gente tem mais facilidade para lidar com dinheiro se começar cedo. Com esse "x" que eu ganho, o que eu posso comprar? Mas se eu quiser comprar alguma coisa mais cara vou ter que economizar um mês a mais, dois, talvez três."

Falando em começar cedo, quase 50% dos pais brasileiros entrevistados começam a dar dinheiro entre 5 e 7 anos de idade. Mas será que essa é uma idade boa?

Quando começar a dar mesada?

Existe, sim, uma idade ideal para começar a dar mesada às crianças. Segundo um estudo da Universidade de Cambridge, no Reino Unido, aos 7 anos a criança já tem capacidade de entender o valor do dinheiro – e as consequências de gastar demais ou os benefícios de economizar.

O estudo sugere, ainda, que os pais ou responsáveis apresentem alguns dilemas compatíveis com a idade para que elas tomem decisões entre poupar ou gastar. Assim, vai se formando o que eles chamam de "hábitos da mente". É uma oportunidade de fazerem escolhas boas ou ruins sem se prejudicar tanto e aprender com elas para que, no futuro, desenvolvam uma relação positiva com o dinheiro. 

Angela Tosatto tem outra dica sobre a idade ideal. Ela sugere que os pais ou responsáveis observem a criança e comecem quando perceberem que ela está entendendo e se interessando sobre o uso do dinheiro. 

Pode ser que os 7 anos sugeridos pelo estudo de Cambridge seja um pouco cedo para algumas, ou meio tarde para outras. Ela ressalta que é importante não deixar passar o bonde porque aí a criança pode já ter que lidar com operações financeiras mais complexas sem experiência nenhuma.

"E claro, sempre explicando o que é o dinheiro, de onde vem, não simplesmente dar por dar a mesada mas explicar e contextualizar a criança, que os pais tem que sair para trabalhar, ganhar o dinheiro, comprar as coisas e um pouquinho sobrar também para ele comprar as coisas que ele gosta, para ele se administrar".

O mais importante do processo de aprendizado das crianças é ter envolvimento da família. Então o conselho de Angela é valioso: não basta dar o dinheiro, tem que guiá-los pelo caminho, ensinando o que fazer com ele, mostrando preços de produtos em comparação com outros e recomendando melhores escolhas. 

Os pesquisadores do Reino Unido dizem que muitos pais têm dificuldade em ver os filhos errando e tentam impedir, mas eles afirmam que esse não é o melhor caminho com as crianças. O ideal é deixar eles fazerem escolhas ruins também para aprenderem com elas nesse ambiente controlado, de pouco dinheiro.

Dá para aprender brincando?

Dá sim, e é o melhor jeito de ensinar, segundo a pesquisa da Universidade de Cambridge. Mas como? Você pode levar as crianças até o supermercado e dar um valor para elas comprarem o que quiserem, sem restrições. Não precisa ser muito, pode ser R$ 10 ou R$ 20. Lá, você vai guiar o exercício de avaliar com elas o que comprar com esse valor – e o que deixar de lado.

Provavelmente elas vão escolher o primeiro chocolate que virem na frente, e seu papel é mostrar que talvez valha mais a pena pegar dois sorvetes no lugar. Ou não, se elas realmente preferirem o chocolate. O que vale é que elas entendam os preços dos itens e aprendam a fazer escolhas, deixando algumas coisas para trás para terem outras.

Também é possível pensar em um dia sem gastos, para mostrar como o dinheiro está presente em quase tudo o que a gente faz, e trazer as despesas para o nível consciente. Dá para sair de casa pra fazer passeios tentando não gastar nadinha na rua. 

Outra ideia citada é selecionar alguns itens básicos do dia a dia e fazer um jogo de adivinhação. Você mostra a foto de um saco de arroz, por exemplo, e elas precisam adivinhar quanto custa. Ou, então, mostrar dois itens para que elas palpitem qual custa mais. Depois, você revela o valor real, e acredite: elas vão se surpreender. 

Escolha produtos que são grandes, como um pacotão de papel higiênico, e compare com uma pequena embalagem de chocolate importado, por exemplo. Aproveite para explicar por que os preços são diferentes e mencione custos esquecidos na fabricação, como o da eletricidade e da mão de obra.

Como dar o dinheiro e com que frequência?

Se você pensou em uma mesada, ou seja, uma vez por mês, é a mesma frequência que 65% dos brasileiros escolhem para dar dinheiro às crianças. Angela Tosatto, especialista do Nubank, concorda com a frequência mensal.

"É importante, sim, ter essa frequência mensal porque a criança vai começar a entender que demora a entrar mais dinheiro na conta dos pais e para a mesada dele, então ele também vai ter essa noção de tempo, que nada é de uma hora pra outra. As crianças vão ter que se planejar pros próximos 30 dias. O que eu vou comprar agora? Se eu gastar tudo essa semana fico três semanas sem. Mas, para os menores de dez, anos acho que é interessante dar [dinheiro] a cada 15 dias porque a noção de tempo deles é um pouquinho diferente da nossa".

Outra discussão importante é se o valor deve estar vinculado às obrigações, como arrumar o quarto e fazer a lição da escola, ou se não deve ter relação com os deveres. Pode parecer um dilema bobo, mas não é. 

Se a mesada estiver vinculada às obrigações, as crianças podem ficar mais motivadas a cumpri-las, e pode ser bom que comecem a entender que, para ganhar dinheiro, é preciso se esforçar, como é a lógica do trabalho. Por outro lado, eles podem achar que sempre merecem ser recompensados por cumprir obrigações, o que não é necessariamente verdade. E ainda tem o fato de que eles deveriam cumprir algumas obrigações mesmo que não fossem pagos para isso porque… bem, são obrigações e ponto final.

Existem inúmeras pesquisas que defendem tanto um lado quanto o outro, todas com argumentos bem fundamentados. Aí prevalece a visão de mundo que você quer passar para criança. A Angela Tosatto dá outra ideia sobre o tema:

"É super importante a mesada não ser condicionada a tarefas domésticas, pequenas tarefas domésticas, claro, cada um na proporção da sua idade, mas ser atrelada a algum bônus se ele fizer a tarefa muito bem feita. Então isso vai estimular a criança desde cedo a buscar fazer algo bem feito para conseguir um pouco mais de dinheiro. Isso se reflete na vida adulta com certeza".

Quanto dinheiro dar para as crianças?

A resposta aqui pode variar bastante, dependendo das condições de cada família. Segundo a pesquisa da Serasa, 38% dos pais que dão dinheiro aos filhos definem um valor entre R$ 20 e R$ 60. Outros 28% dão mais de R$ 120 por mês.

Os especialistas da Universidade do Arizona defendem que a quantia não é relevante: pelos estudos deles, você pode dar o quanto achar compatível com a sua renda e não é isso que vai ensinar mais ou menos o bom uso do dinheiro. 

Eles defendem que o mais importante é que os pais deem primeiro em dinheiro e supervisionem, e explicam também que é fundamental que as crianças lidem com dinheiro físico antes de dar um passo grandioso, como ter um cartão de crédito em seu nome – porque aí o prejuízo pode ser grande.

A especialista acredita que é melhor dar um valor mais baixo, e tem um bom motivo para isso:

"Quantias altas não é benéfico para a criança. Porque se ele conseguir comprar tudo o que quer o mês inteiro vai achar que aquilo ali é a realidade do mundo e a gente sabe que a realidade, quando tu te tornas adulto, é bem diferente. Então tu podes começar a dar uma quantia baixa em média, com alguns bônus talvez no meio do caminho. Mas nunca valores muito altos, que a criança consiga comprar muita coisa, porque daí se é uma quantia média ou baixa você vai estimular eles a economizar dinheiro."

Os pais também podem acompanhar a mudança das necessidades com o passar dos anos e aumentar os valores até chegar na idade em que eles já possam ter sua própria conta. 

Conheça a conta do Nubank para menores de idade, supervisionada pelos pais 

Pronto, agora você já sabe quais são as melhores opções para dar dinheiro às crianças e introduzir a educação financeira no cotidiano. Viu só, nem foi tão difícil, né? Parece até brincadeira.

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