Em agosto de 2021, quando a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) criou a bandeira da escassez hídrica, que encareceu as contas de luz, as buscas no Google por energia solar dispararam. Naquele momento, muita gente começou a pesquisar por alternativas mais baratas de energia.
Essa corrida provocou um crescimento nesse mercado. Ao todo, 1 milhão de consumidores geram sua própria energia solar no Brasil – 76,6% são consumidores residenciais. O número ainda é baixo, pois representa apenas 1,1% dos 89 milhões de clientes de energia elétrica do país, mas deve dobrar em 2022, segundo a Absolar (Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica).
Abaixo, entenda mais sobre essa forma de geração de energia e o que considerar antes de instalar seus painéis no telhado.
Por que o interesse por energia solar está crescendo?
A preocupação em buscar alternativas de energia cresceu no mundo todo, por diferentes motivos. No Brasil, a seca é a principal causa da preocupação. Há sete anos, os reservatórios das hidrelétricas receberam um volume de água menor do que a média, segundo o ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico).
O resultado, em 2021, foi a maior crise hídrica que o país já viveu desde 1930 – e isso não é nada bom para o nosso sistema elétrico. Isso porque 65% de toda a eletricidade gerada no país é hidráulica, de acordo com a EPE (Empresa de Pesquisa Energética).
Ou seja, o Brasil é muito dependente de chuvas para manter as barragens cheias, as hidrelétricas funcionando e, assim, ter energia. Em situações de seca, as usinas termelétricas são ativadas para compensar a falta de energia gerada pelas hidrelétricas. O problema é que a operação das termelétricas é mais cara. Para bancar esse custo, a Aneel alterou as bandeiras de energia que são aplicadas nas contas.
O que o aumento da conta de luz tem a ver com a energia solar?
Com a crise hídrica, a conta de luz ficou nada menos que 21,21% mais cara em 2021. Mas esse aumento não é de hoje. Segundo dados do IBGE, a conta de energia elétrica vem subindo sucessivamente desde 2017, sempre acima da inflação oficial medida pelo IPCA (índice de Preços ao Consumidor Amplo).
Ano | Aumento da conta de luz | Inflação geral |
---|---|---|
2017 | 10,35% | 2,95% |
2018 | 8,70% | 3,75% |
2019 | 5% | 4,31% |
2020 | 9,14% | 4,52% |
2021 | 21,21% | 10,06% |
Se de um lado a energia tradicional está ficando cada vez mais cara, de outro a energia solar cresce e fica mais barata. Desde 2017, a potência instalada de energia solar dobrou todos os anos no Brasil, e atingiu um volume recorde de 13,4 mil megawatts em 2021, segundo a Absolar. Já o número de consumidores que geram energia solar chegou a 1 milhão.
O empreendedor Claudinei dos Santos, de 42 anos, é um desses consumidores. Ele mora na região rural de Gravataí, no Rio Grande do Sul, e já pensava em trocar a energia tradicional pela solar há algum tempo. Com o aumento da conta de luz em 2021, ele colocou o plano em prática e já sentiu a diferença no primeiro mês.
"A conta da minha casa mais a do meu pai dava uns R$ 1.000 por mês, mesmo com o desconto por ser área rural. No primeiro mês com energia solar, eu paguei R$ 200", conta.
Não é só ele que sente essa queda. Segundo a Absolar, uma família que consome cerca de 230 kWh por mês gasta em torno de R$ 205 com a conta de luz. Com o sistema solar, a fatura seria quase 87% menor, de aproximadamente R$ 27, uma economia mensal de R$ 178.
Quanto custa ter energia solar em casa?
Foram necessários três meses da contratação do serviço até o início da geração de energia solar na casa de Claudinei. Para realizar a instalação, o fornecedor vai até o local, faz uma análise e pede pelo menos as três últimas contas de energia da casa. Tudo isso para criar um projeto, que vai dimensionar quantas placas serão necessárias para produzir uma energia equivalente à que você já consome.
Esse projeto é encaminhado para a concessionária da região aprovar. Segundo a Aneel, as concessionárias têm até 34 dias para avaliar e aprovar o projeto. Todo esse encaminhamento é realizado pela empresa que vai instalar o sistema. Enquanto o projeto está na concessionária, já é possível iniciar a instalação das placas e da minigeradora. Mas somente depois da aprovação é que o sistema pode ser ligado.
A casa de Claudinei e a do pai somam em torno de 400 metros quadrados. As placas foram instaladas apenas na casa de Claudinei, mas gera energia para os dois imóveis. O investimento inicial foi de quase R$ 33 mil.
Saber quanto custa ter energia solar em casa depende de vários fatores. O que mais influencia nesse valor, em primeiro lugar, é a quantidade de energia consumida. Nas duas casas de Claudinei, o consumo beirava os 1.000 kWh por mês.
"Também depende do tamanho e da estrutura do telhado, da região onde está a casa – se tem mais sol ou não – e do valor da tarifa da distribuidora, além do tamanho do sistema. São tantos fatores que é difícil estabelecer um valor médio", afirma Guilherme Susteras, coordenador da Absolar. Por isso os preços variam muito, mas costumam partir de R$ 10 mil, por exemplo.
Retorno do investimento
Para pagar a instalação do sistema, Claudinei fez as contas e preferiu pegar um empréstimo, com parcelas próximas a R$ 1.000 – valor da conta anterior de energia. "Troquei a conta de luz antiga pela parcela do empréstimo, mas está dentro do meu orçamento e vou ter o retorno em três anos e meio", conta.
De acordo com a Absolar, se uma família que consome em torno de 230 kWh por mês instalasse o sistema de energia solar, ela pagaria esse investimento com a redução da conta em quatro anos e nove meses. Para um consumo maior, em torno de 800 kWh por mês, esse retorno chega antes, em três anos e sete meses. Isso porque, quanto maior o consumo, maior é a diferença na conta de energia.
No caso de Claudinei, a decisão pelo empréstimo foi tomada com base no seu planejamento financeiro. Se você está com dívidas e com as finanças desorganizadas, contratar um empréstimo para ter uma conta de luz mais barata não é o melhor caminho. O ideal é que você organize primeiro as suas contas.
Como o crescimento do mercado de energia solar me afeta?
O encarecimento da energia elétrica tradicional estimulou pessoas e empresas a buscarem alternativas mais baratas. E este não é o único motivo para o crescimento desse mercado, segundo Susteras, da Absolar.
Para ele, é natural que a energia solar se popularize ano a ano e ganhe mais espaço, assim como qualquer nova tecnologia, independentemente do encarecimento da conta de luz.
Além do custo de energia tradicional maior, ele elenca outros três motivos para o crescimento do mercado de energia solar nos últimos anos – e todos eles afetam os custos para o consumidor final.
Queda dos custos
O preço médio por megawatts/hora em leilões de energia solar era de US$ 103 em 2013, e foi caindo até chegar em US$ 30,90, em 2021.
É nos leilões de energia que as concessionárias – distribuidoras como a Enel, por exemplo – ganham o direito de distribuir a energia das geradoras para os consumidores de determinada região. Ou seja, se o preço médio está caindo para as distribuidoras, também cai para você.
Nova lei
Outro motivo para o crescimento do mercado de energia solar é a Lei 14.300, aprovada em janeiro de 2022, e que regula algumas práticas que já estavam previstas em resoluções da Aneel. Resoluções podem ser mudadas da noite para o dia, já leis não.
Em outras palavras, a lei torna esse setor mais estável e seguro, do ponto de vista legal. Essa segurança atrai mais empresas investidoras, eleva a oferta de crédito para a instalação desse tipo de energia, aumenta o número de fornecedores e torna esse mercado mais competitivo. Ou seja, tudo isso faz você ter mais opções na hora de buscar um fornecedor para instalar energia solar na sua casa.
Menos barreiras
No final de 2015, a Aneel criou novas modalidades de geração de energia solar que facilitam a vida de quem quer ter esse tipo de energia, mas não tem espaço físico para montar o sistema em casa ou não tem dinheiro para fazer o investimento inicial. Foram criadas três modalidades:
Múltiplas unidades consumidoras: nessa modalidade um empreendimento que agrupa vários imóveis pode usar um único minigerador de energia solar. Por exemplo: um prédio residencial instala as placas para abastecer os apartamentos e outras áreas do mesmo condomínio. Isso reduz o custo inicial de instalação, que pode ser dividido entre os moradores.
Autoconsumo remoto: se você tem mais de uma propriedade no seu CPF ou no seu CNPJ, pode instalar um minigerador em uma propriedade e compartilhar a energia gerada por ele nos outros imóveis que estão no seu nome. Isso é possível desde que esses imóveis estejam dentro da mesma área de distribuição da concessionária.
Geração compartilhada: nessa modalidade, consumidores e empresários se unem, por meio de consórcio ou cooperativa, escolhem um local para instalar a geradora e compartilham essa energia gerada. Neste caso, eles não precisam ser do mesmo prédio ou sequer de um mesmo bairro. Basta que todos estejam dentro da mesma área de distribuição da concessionária.
"A geração compartilhada ajuda a aumentar a adesão da energia solar em cidades mais verticalizadas, com muitos prédios", afirma o coordenador da Absolar.
Energia solar é para todo mundo?
Embora o valor de instalação mude muito, não é todo mundo que tem condições de fazer esse investimento inicial. Foi pensando nisso que grupos de moradores e lideranças comunitárias da favela da Babilônia, no Rio de Janeiro, se uniram e criaram a Revolusolar, organização sem fins lucrativos que trabalha com energia solar.
A organização instalou um sistema de geração de energia solar no teto da associação dos moradores e distribui energia para dois comércios, uma escola e 34 famílias da favela no modelo de geração compartilhada, por meio da formação de uma cooperativa. A média da conta de luz dessas famílias caiu pela metade.
"Esse é um modelo que torna mais acessível a energia solar e faz sentido no contexto da favela. É que muitas dessas casas têm sombra e uma rotatividade grande. Os custos da energia solar estão caindo e tem até tem linhas de crédito para esse investimento, mas as famílias de baixa renda não têm esse acesso", explica Eduardo Avila, diretor-executivo da Revolusolar.
Energia solar também gera empregos
Com a cooperativa, a organização foi finalista do prêmio Jovens Campeões da Terra, da ONU (Organização das Nações Unidas), em 2020. Hoje, a organização também atua na favela do Chapéu Mangueira, que fica ao lado do morro da Babilônia.
Além da instalação de placas, a Revolusolar também trabalha com educação sustentável para crianças e formação de jovens da comunidade para trabalhar nesse mercado, que está crescendo. Neste ano, o setor de energia solar deve gerar em torno de 357 mil empregos, segundo dados da Absolar.
De acordo com Susteras, a barreira do custo inicial de instalação vai cair cada vez mais, e é questão de tempo para que a energia solar seja uma realidade para mais pessoas no país. "Esse mercado ficou anos sem grandes mudanças. Agora, está em crescimento acelerado e deve ficar assim por muito tempo ainda. Muitas novidades devem surgir", diz.
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