Por Phelipe Siani
Esses dias eu fiz um post no meu feed do Instagram sobre um dos muitos comércios que têm aqui perto de casa. Era um carrossel de fotos com um textão, que descrevia um pouco daquele lugar com vitrine de vidro lascado, armários de madeira escura com desenhos em alto relevo, preços escritos à mão em pedaços desiguais de papel recortado e piso todo feito com retângulos razoavelmente bem assentados de uma já desgastada cerâmica vermelha.
É um comércio que existe há décadas no mesmo lugar. E há décadas tudo ali funciona exatamente do mesmo jeito. Em cima do balcão de fórmica azul riscada, um jornal impresso aberto no caderno de economia. No meio da loja, uma mesa grande cheia de papéis, revistas antigas e peças de reposição. O mais maluco é que o comércio que claramente parece ter parado no tempo é o mesmo que garante a evolução do tempo dos outros: uma relojoaria.
Negócios assim são cada vez mais difíceis de serem vistos numa cidade como São Paulo, Salvador, Porto Alegre ou qualquer outra capital/cidade grande. Mas ainda são muitos os comerciantes que fazem questão de manter esse “estilão” vintage na marra, que já foi moda num passado bem longínquo.
Sempre que eu vou gravar um conteúdo sobre tecnologia associada ao empreendedorismo, me pego pensando nesses pequenos empresários. Com tanta vivência e tanta experiência no trato com o público, não sou eu que vou dizer que eles estão errados… de jeito nenhum. Mas, até para eles, a tecnologia pode ser transformadora. Só que muitos não fazem ideia disso. Sabe por que? Porque ninguém explica direito.
Novas possibilidades = mais lucro nos negócios
A missão não é fácil. Mostrar para alguém acostumado a fazer as coisas do mesmo jeito há MUITOS anos que se abrir para novas possibilidades pode trazer, no fim das contas, mais dinheiro livre no bolso
Por mais raiz que seja, não há empreendedor que consiga fugir, hoje em dia, de pagar (e calcular) impostos, contratar, demitir funcionários, fazer controle de estoque, entender as entradas e saídas financeiras e, quem sabe, fazer sobrar dinheiro de lucro no fim do mês. O que antes precisava ser feito por profissionais externos, consultorias ou serviços terceirizados, hoje está ao alcance de um prompt de um ChatGPT da vida.
Mas para quem sempre ouviu que tecnologia é um negócio perigoso, falar em “prompt de ChatGPT” pode não ser o caminho mais eficiente. Comunicar de um jeito simples e agregador é básico para quem quer se fazer entender por todo mundo, para quem quer impactar e ajudar de verdade quem ainda não entende a lógica do mundo empreendedor de 2025.
Eu acredito numa jornada como a que eu fiz com a minha mãe. Eu sei que ela ama cozinhar e vive dizendo que quer fazer uma receita X ou Y para mim, mas precisa “achar a receita” que ela anotou em algum lugar e esqueceu numa gaveta qualquer da cozinha ou da área de serviço. Na última vez que ela disse algo do tipo, eu aproveitei a deixa para baixar o app do ChatGPT no celular simples dela e criar um agente de receitas especializado no tipo de culinária que ela mais gosta.
Com tudo pronto (e feito literalmente em menos de 5 minutos), eu abri o app e mostrei como ela podia acionar o microfone do celular para aquele novo assistente de cozinha trazer toda e qualquer receita que ela quisesse, inclusive diminuindo o desperdício, porque o mesmo agente consegue montar pratos incríveis com os ingredientes que ela tem na geladeira. Assim, menos produtos vão para o lixo, mais fácil e eficiente fica o dia a dia dela na cozinha e menos dinheiro ela gasta com produtos que vão ser mal usados.
Quem perde tempo, perde dinheiro
Mas, provavelmente, ninguém ainda fez algo parecido com o funileiro da minha rua, que sempre esquece o código da cor original de um carro específico e corre o risco de pedir errado no distribuidor de tintas. Ninguém disse para ele que o Gemini do Google ou o CoPilot da Microsoft trariam essa resposta em segundos. Sem essa informação, ele segue pedindo no instinto, acreditando na memória. Correndo o risco de receber a tinta errada e atrasar a entrega do carro para o cliente em um ou dois dias, às vezes mais.
É tempo perdido que poderia ser usado para pintar mais carros, para gerar mais renda, para fazer daquele negócio uma máquina mais lucrativa. Está clara a lógica? Imagina se alguém mostra para ele que dá para tirar uma foto do carro do cliente, subir numa plataforma e visualizar como ficaria com a lataria de outra cor, com as rodas pintadas de preto, com os para-choques sem nenhum dos muitos arranhados das manobras na garagem apertada do prédio?
Estar fora da tecnologia é estar fora do jogo
Ignorar a Inteligência Artificial e a tecnologia em geral é uma opção cada vez mais inviável. Porque, a cada dia que passa, tudo isso fica mais e mais presente em todas as ferramentas básicas de gestão dos negócios de todos os tamanhos
Lá em 2023 já tinha um levantamento bem parrudo do Fórum Econômico Mundial mostrando que 75% das empresas tinham alguma automação ou processo de Inteligência Artificial implantado.
E tem outra… comunicar e mostrar para o mercado que a sua empresa (por menor que ela seja) usa tecnologia para ganhar eficiência e entregar mais valor para os clientes pode posicionar o seu negócio numa prateleira de autoridade e modernidade que os seus concorrentes não têm. E está tudo a um ChatGPT gratuito de distância.
Eu sei que muita gente ainda sofre com a exposição de dados pessoais em plataformas gringas, mas vamos lembrar que, no passado, mandar uma carta escrita à mão sempre foi também sobre confiar num carteiro que a gente não necessariamente conhecia. É claro que a comparação não é perfeita… uma Big Tech tem muito mais a ganhar com padrões de consumo e comportamentos consolidados de milhões de pessoas do que os correios com cartas antigas de assuntos pessoais diversos. Mas também chega a ser um pouco presunçoso pensar que uma gigante chinesa está interessada justamente nos detalhes das minhas buscas on-line individualmente, entende?
Ferramentas a um clique de distância
Voltando a olhar para os números do mercado, o IDC Brasil, que é o Instituto de Desenvolvimento Corporativo, mostrou que, só em 2024, as pequenas e médias empresas despejaram mais de R$ 12 bilhões em tecnologia nas próprias operações. Só para reforçar… esse dado é apenas sobre as pequenas e médias empresas. A lógica desse número segue a linha desse meu argumento de uso das ferramentas digitais simples que a gente tem hoje.
Só para falar de alguns exemplos, a gente tem ChatGPT, Canva, Notion, Monday, CapCut, Hubspot, Office 365, Plaud… isso sem falar nas redes sociais e afins. Muita coisa é de graça ou com preços bem pagáveis. Tudo isso já tem IA nativa e ajuda os empreendedores a executarem em minutos tarefas que antes podiam levar dias.
A conclusão é que está tudo bem querer seguir a tradição e o modelo de gestão de décadas passadas.
Mas negar o ganho de escala e eficiência que a tecnologia pode trazer para o seu dia a dia profissional é, na minha opinião, além de contraproducente, pouco visionário
O convite que eu faço nessa pensata conjunta é, acima de tudo, para que a gente seja mais lucrativo. Ignorar a evolução da tecnologia e como ela pode te ajudar nos negócios é sim uma perda de tempo, e essa afirmação vale até para a antiga relojoaria do meu bairro.
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Descomplicando o seu Negócio, a nova coluna do blog do Nubank
A partir de agora, o blog do Nubank ganha uma nova coluna mensal: Descomplicando seu Negócio, com o jornalista e empreendedor Phelipe Siani. Esse será um espaço para inspirar, provocar e mostrar, na prática, que é possível descomplicar a rotina do seu negócio de uma maneira leve, eficiente e inteligente.
Todos os meses, Phelipe Siani vai compartilhar informações, dicas, tendências, tecnologias e estratégias que podem ajudar no dia a dia de quem empreende. Tudo isso de um jeito acessível e direto ao ponto.

Phelipe Siani é comunicador, empresário e palestrante, com mais de 20 anos de experiência em jornalismo, criação de conteúdo e desenvolvimento de negócios. Atualmente, é âncora da CNN Brasil e fundador da PHS Holding, grupo que reúne empresas como Albuquerque Content, Trofeo Studio e Office Connection, voltadas à produção de conteúdo, audiovisual e soluções corporativas.
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