Quanto custa se educar no Brasil?

A resposta para essa pergunta vai muito além de pagar mensalidade ou estudar no ensino público – e ela é, muitas vezes, um fator determinante para o futuro das pessoas. Entenda tudo que está envolvido e como organizar os gastos com educação.

Quando você era criança, o finzinho das férias escolares provavelmente vinha acompanhado de um momento específico: ganhar o material do próximo ano. Para quem tinha condições de escolher o que quisesse, era um dos dias mais legais do ano: material cheirando a novo, caderno com capa legal, caneta colorida… Mas, se você lembrar bem, seus pais não estavam tão animados, né?

Isso, aliás, se a sua família tinha condições financeiras para te deixar escolher. Para grande parte das pessoas, o material era aquele recebido pelo município ou estado. Afinal, era preciso fazer escolhas, porque educação custa, e pode custar muito caro.

O filósofo alemão Immanuel Kant disse que "O ser humano é aquilo que a educação faz dele". Mas essa é uma visão que se reflete muito além das páginas de filosofia: é comum ouvir das pessoas que a educação é a coisa mais importante que elas podem proporcionar a suas crianças, um legado que pode transformar o futuro delas. 

Só que esse legado envolve muitos gastos. Coloca aí na ponta do lápis, pra quem estudou no ensino privado: desde a creche, passando por mensalidade de escolas, uniforme, livros, materiais de apoio, cursos extras (como de idioma), depois cursinho pré-vestibular e, quando chega na universidade, os valores podem ir pra estratosfera.

Se a jornada educacional acontece totalmente em instituições públicas de ensino, os custos diminuem bastante mas, ainda assim, pesam no orçamento.

Veja, a seguir, quanto custa educar uma pessoa no Brasil. 

https://www.youtube.com/watch?v=CBwpFGveyBw

A educação transforma o futuro dos países

Não é apenas senso comum: existem dados, estudos e provas concretas de que a educação importa muito para qualquer nação que se preocupe em construir um futuro. 

Um relatório da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) mostrou que todo investimento em educação tem um resultado futuro de melhoria de índices sociais e até impacta na riqueza dos países.

Neste estudo, a OCDE percebeu que os benefícios econômicos de se investir em educação são revertidos para o próprio Estado com o tempo. Isso porque, além de serem mais inovadores e trazerem melhores propostas para a sociedade, cidadãos mais bem educados conseguem melhores trabalhos, ganham mais na média e são mais estáveis em seus empregos. 

Ou seja, as pessoas aumentam seu poder econômico, consomem mais, e pagam mais impostos, devolvendo o investimento para o país. 

A educação também está associada à redução da desigualdade social e da pobreza com o tempo, e, por isso, só traz vantagens de longo prazo para os países que realmente investem nela.

Mesmo assim, essa não é exatamente a realidade na maior parte do mundo. Ainda de acordo com a OCDE, quase metade dos jovens adultos do mundo, de 18 a 24 anos, não estão matriculados em alguma instituição de ensino. Na verdade, dois terços deles estão empregados, e 15% não estão nem estudando, nem trabalhando ou em algum programa de trainee ou estágio.

Outro dado vem como consequência disso. A renda líquida média de quem cursou o ensino superior geralmente é mais alta do que a de quem parou no ensino médio. Então os custos da educação retornam para o Estado, mas o preço de não investir nela… é alto.

Quanto custa educar uma pessoa?

Essa é uma pergunta sem resposta única. Depende de qual país a criança ou adolescente vai estudar, em que tipo de instituição, etc. Mas, ainda usando os dados da OCDE, é possível estabelecer uma média: um aluno custa, em média, US$ 11.700 por ano. 

Você deve ter levado um susto com essas cifras. Imagine se, em regiões mais pobres do Brasil, o Estado estivesse investindo US$ 11 mil por aluno, algo como R$ 60 mil nos dias de hoje. Realmente, não está, e é por isso que a média não serve pra muita coisa.

Na Noruega, o investimento médio anual por aluno custa é de US$ 18 mil por ano; em Luxemburgo, esse valor pode chegar a US$ 25 mil por aluno ao ano. Já na, Colômbia, o investimento anual é de US$ 3.100 em média por aluno.

O Brasil está mais perto da Colômbia nesse quesito: o investimento médio anual em um aluno brasileiro é de US$ 3.256.

Esses valores, ainda de acordo com o relatório da OCDE, mostram a diferença de oportunidades entre países. Um exemplo das consequências disso: os países que mais investem em educação também são os que pagam os melhores salários do mundo aos seus professores. Por outro lado, os países com os menores investimentos têm as maiores médias de aluno por professor. 

Então quanto custa educar alguém no Brasil? Segundo Daniel Cara, da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP), esse custo varia de acordo com a família.

"Quando a família matricula suas crianças, seus adolescentes, em escolas privadas, os principais custos estão relacionados à matrícula e às mensalidades. Na sequência, livros didáticos. Quando a família tem um pouco mais de recursos, cursos extracurriculares. Já quando as famílias matriculam seus filhos nas escolas públicas, os custos dos cursos extracurriculares se tornam os principais", diz.

Ainda de acordo com o educador, existem alguns custos escondidos que, normalmente, não são contabilizados. "O investimento na ida ao cinema, ao teatro, atividades esportivas, isso também faz diferença na educação. Porque educação é apropriação de cultura, educação é repertório", complementa.

Ou seja, todos esses custos entram em um possível cálculo. Fazendo uma conta rápida dos números oficiais da OCDE, educar alguém no Brasil custa, em média, R$ 17.900 por ano. Isso dá cerca de R$ 1.492 por mês. Mas, de novo: essa é uma média. Em um país com tantas diferenças de renda, não é possível cravar um número exato que reflita todas as realidades.

A importância do envolvimento familiar na educação

Para além dos gastos concretos, existe um fator muito importante para aprimorar a educação: o tempo que as famílias têm condição de dedicar ao estímulo de formação de  suas crianças e adolescentes. O professor Daniel Cara fala um pouco sobre isso:

"Um dos fatores mais importantes para a garantia do aprendizado de crianças e adolescentes é a participação dos pais e da família no processo da educação". Uma das formas como isso se traduz, segundo ele, é no incentivo à leitura. "Porque a leitura gera autonomia, capacidade de autodidatismo e ampliação de repertório do que é educação".

Obviamente, o acesso a boas escolas, professores bem remunerados e infraestrutura de qualidade fazem toda a diferença. Inclusive é esse o incentivo da OCDE no seu relatório, para que os países proporcionem uma boa educação aos cidadãos investindo nela e nos seus profissionais. 

Mas o que o professor Daniel explica é que gastar muito dinheiro com educação não garante um bom futuro. De acordo com ele, há muitos casos de alunos de escolas com valores de mensalidade altíssimos que enfrentam problemas para passar no vestibular ou conseguir de fato desenvolver seus projetos de vida. 

Isso acontece, ainda segundo o professor, porque muitas famílias que investem pesado na educação acabam terceirizando a responsabilidade do aprendizado exclusivamente para as escolas. E, para dar certo, a educação precisa ser uma responsabilidade compartilhada entre a família e a escola. 

Como priorizar os recursos na hora de educar?

Educar custa caro – em valores concretos, sim, mas também nos mais intangíveis. Afinal, dedicar tempo e esforço para se envolver na educação dos filhos pode não gerar um boleto, mas também envolve elementos como os horários de trabalho, a facilidade de se locomover e estar presente no dia a dia escolar e vários outros.

O professor Daniel Cara indica alguns pontos importantes na hora de priorizar os gastos com educação – inclusive financeiramente, quando for possível.

  1. Cursos de idiomas são importantes, porque ajudam a aperfeiçoar as habilidades de linguagem e comunicação do aluno. E, quanto antes, melhor. Isso dá autonomia ao indivíduo no mundo globalizado em que a gente vive;
  2. Os esportes vão bem. Segundo o especialista, vale investir tempo na prática de atividades esportivas, especialmente as coletivas, como futebol, vôlei ou basquete. Elas ajudam a desenvolver sabedorias de como trabalhar em equipe, ensinam o desenvolvimento de liderança, de compromisso com o grupo, de responsabilidade e até de empatia com os adversários;
  3. Incentive a cultura. Curtir experiências culturais imersivas, como o teatro, exposições artísticas, cinema, literatura é ótimo. Streaming e YouTube conta? Segundo Daniel, eles são uma ferramenta que pode ajudar, mas não devem ser a única fonte de contato com a cultura. Quanto mais diversas as experiências, melhor. Ah, e é importante que esse seja um processo gostoso, divertido, e que aprofunde as relações familiares.

No fim das contas, quanto custa tudo isso? Depende. Mas uma coisa é certa: um dos bens mais valiosos para a educação das crianças e adolescentes é o tempo.

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