Não importa onde você está ou o que está fazendo. Todos os caminhos levam para o consumo. Na rua, nas telas do celular, na televisão. Os estímulos que criam desejos e necessidades trabalham 24 horas por dia e qualquer pessoa minimamente conectada está sujeita a eles. Comprar e ter sonhos de consumo são parte da vida, mas eles se tornam um problema quando estão desregulados e causam endividamento.
Mas existe um jeito certo de consumir? Para o historiador e professor Leandro Karnal, gastar demais e gastar de menos são duas faces da mesma moeda. "Eu preciso achar um equilíbrio estratégico", diz.
Karnal foi convidado pelo Nubank para refletir sobre o que é possível aprender com o Jogo da Vida, relançado pela Estrela em parceria com o Nu. O jogo é uma brincadeira que reflete situações da vida adulta. Com ele, é possível aprender sobre decisões e organização financeira. Longe do tabuleiro, Karnal mostra que é possível realizar sonhos de consumo sem atropelar as contas. Leia abaixo.
Nem demais e nem de menos: dá para gastar sem culpa e sem prejudicar a vida financeira?
Segundo Leandro Karnal, dá. O primeiro passo para isso, porém, não tem nada a ver com quanto você tem na conta. Para ele, é preciso entender que o dinheiro é uma ferramenta para realizar metas e que lidar com ele não tem atalho: é necessário aprender o básico antes de avançar.
"Decisões erradas sobre o dinheiro costumam levar a desastres pessoais. Falta-nos o hábito da educação financeira, e estabelecer valores e limites. Muita gente passa a vida inteira sem conseguir lidar bem com o dinheiro, mas eu preciso aprender para, assim, tomar decisões mais equilibradas, estratégicas e racionais."
Leandro Karnal
Confira alguns conselhos do historiador que podem ajudar a encontrar esse equilíbrio no consumo.
Entenda que você não pode ter tudo e está tudo bem
Estímulos por todos os lados aumentam aquela ansiedade para ter o que aquela influenciadora tem, o que aquele comercial mostra, o que aquele vídeo do YouTube testou. Mas Leandro Karnal lembra de uma ideia do filósofo Immanuel Kant, que diz que o homem é livre quando consegue fazer o que não quer.
"Fazer o que se quer é próprio dos animais e das crianças. Eu sou um adulto livre e racional quando eu faço o que não quero. Ou seja, eu gostaria de gastar muito, mas vou guardar essa parte para reinvestir. Não há necessidade que eu tenha tanto luxo numa viagem, basta o conhecimento que essa viagem pode me dar, e assim por diante", avalia.
Na prática, é respirar e se distanciar um pouco dos estímulos que você identificou que te geram ansiedade. Além disso, na hora de colocar algum produto ou serviço no carrinho, é preciso avaliar se ele faz parte do seu estilo de vida ou se você está seguindo a manada.
Não transfira carências afetivas para o consumo
Para evitar a manada e entender o que te faz consumir desenfreadamente, Karnal recomenda separar a emoção do consumo. Mas como fazer isso se tudo o que você quer é aquele tênis novo depois de um dia estressante de trabalho? Uma estratégia é investigar a fundo os próprios valores e o que te levou a esse consumo.
"A gente transfere carências, necessidades, desejos afetivos para o consumo – o que é um erro. Quando eu tenho valores claros, não transfiro essas carências afetivas para os gastos, acabo tendo um gasto mais equilibrado e dou ao dinheiro uma função de alavanca para o que eu realmente quero."
Leandro Karnal
Nem tudo o que parece bom é bom para você
Um dos passos para entender se determinada compra conversa com os seus valores é avaliar o ambiente desse consumo e começar a se fazer perguntas antes de colocar qualquer coisa no carrinho.
"Quando você vai comprar uma roupa, a pessoa diz que é a roupa que mais vende, mas ela é a mais adequada ao seu corpo, à sua necessidade? É de fato a roupa mais adequada ao seu momento? Este é o último modelo de celular, mas você tem a necessidade de um novo?", exemplifica Karnal.
Na lista de perguntas, vale entender os motivos dessa compra.
"Se for um gasto por status, não há renda que sobreviva, porque o mercado produz novos símbolos de status como uma necessidade permanente."
Leandro Karnal
Conhece-te a ti mesmo
Para o historiador, esta é a estratégia mais importante não apenas para o consumo, mas para toda e qualquer estratégia de vida. Além dos valores, é preciso conhecer os próprios desejos, sonhos e necessidades.
"A filosofia fundacional socrática diz 'conhece-te a ti mesmo'. Conheça-se, saiba o que você quer e qual a importância disso. Qual a importância para você de ter um imóvel no seu nome, qual a importância das viagens, qual a importância da sua formação? O que é um gasto ruim? É aquele que não vai representar nada para você", afirma Karnal.
Para ele, buscar atender apenas desejos sem questionamento é o caminho para o suicídio financeiro. "Como ensinam os budistas, o desejo é impossível de ser dominado e plenamente atendido, porque ele é insaciável. Qual é o seu objetivo? Quer fazer uma viagem? Faça, mas, acima de tudo, faça se este for um gasto estratégico, que representa uma alavanca na sua vida", explica.
Tenha uma "cota" para gastos estratégicos
O consumo não tem apenas o objetivo de saciar desejos. Ele pode também ajudar a melhorar a sua vida financeira no médio e longo prazo. Karnal chama esses gastos de estratégicos.
"Por vezes, vale a pena gastar mais em coisas estratégicas, como um curso de línguas, um livro essencial para a sua formação ou a compra de um curso que vai mudar a sua visão de mundo. Esses são gastos que valem a pena e direcionam o seu desejo para algo que vai ser ferramenta."
Karnal
Esses gastos são aqueles que podem aumentar o seu valor no mercado de trabalho, que podem te ajudar a conquistar uma promoção ou a ter uma ideia de negócio rentável.
Tenha um plano, mas não precisa ser fiel a ele de forma absoluta
Até mesmo para consumir é necessário um planejamento. Só assim um gasto que poderia ser a realização de um sonho não vira um pesadelo.
"A primeira coisa é ter um orçamento, saber quais são as suas metas e ser fiel a elas. Mas não precisa ter uma fidelidade absoluta. Se eu gastei um pouco mais aqui, no outro mês eu controlo um pouco mais", afirma.
Ou seja, está tudo bem sair do planejamento de vez em quando. Não tem como ser perfeito. O mais importante é que suas metas não saiam do seu horizonte no médio e longo prazo. E que as compras feitas fora desse caminho não tenham peso suficiente para tirar você fora da estrada.
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