Joguinho não: o que o mercado de games tem a ver com seu dinheiro

Em 2020, ele movimentou US$ 120 bilhões em todo o mundo e foi um dos poucos setores a crescer no país na pandemia. Veja como funciona e quais são as oportunidades de quem leva jogo a sério.

Arquibancadas lotadas, perfomances de artistas famosos, dançarinos, animações em grandes telões que interagem com o show, luzes e torcedores enlouquecidos… Essa poderia ser a descrição de uma final de copa do mundo, mas é da final do mundial de 2019 de League of Legends – o maior game para PC atualmente, segundo um estudo do site The Esports Oberserver.

O evento aconteceu em novembro do ano passado em Paris, na França, e foi transmitido em 16 idiomas para 44 milhões de espectadores do mundo todo. Ao longo do mundial, foram 120 partidas realizadas entre a capital francesa e as cidades de Berlim, na Alemanha, e Madri, na Espanha.

No fim, a equipe chinesa FunPlus Phoenix (FPX) levou a taça de campeã e o prêmio de cerca de US$ 835 mil – mais de R$ 3,4 milhões, na época.

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Isso mostra que, para quem pensava que games são brincadeira, a realidade é justamente o contrário. Só no ano passado, este mercado movimentou US$ 120,1 bilhões em todo o mundo, segundo a empresa de inteligência de mercado SuperData – um crescimento de 4% em relação a 2018. 

Seja quem joga no celular para aliviar o estresse, seja quem joga profissionalmente ou trabalha na indústria, os games impactam a vida de bilhões de pessoas no mundo e no Brasil – movimentando economias, bolsos e empregos.

Talvez, você seja um gamer e nem saiba.

Fase 1: Games na economia brasileira

Quem usa metrô ou pega ônibus no Brasil provavelmente já deve ter visto esta cena: uma pessoa com os olhos pregados no joguinho de celular e os dedos correndo rápido na tela para fazer o maior número de pontos possível. A verdade é que os games estão no dia a dia de milhões de brasileiros, fazendo pontos expressivos na economia.

O Brasil é o 13º maior mercado de jogos eletrônicos do mundo, segundo um estudo da consultoria Newzoo. Em cifras, isso se traduz em US$ 1,5 bilhão movimentados por ano – em consoles, jogos para diferentes plataformas, compras dentro dos games….

A expectativa de crescimento também é animadora. Até 2021, esse mercado deve crescer 17% ao ano por aqui, de acordo com relatório da PwC – impulsionado, principalmente, pelos famosos joguinhos de celular.

Durante a pandemia do novo coronavírus, inclusive, esse foi um dos poucos mercados que cresceu por aqui. Afinal, muita gente encontrou nos jogos uma forma de passar o tempo em casa, aliviar o estresse, manter a sanidade mental e viver, nem que por apenas alguns instantes, uma outra realidade.

No primeiro semestre de 2020, por exemplo, a receita paga aos desenvolvedores brasileiros de jogos e apps foi duas vezes maior do que no mesmo período do ano passado, segundo o Google – que mantêm o sistema operacional Android e sua loja de apps.

Para quem nunca se perguntou: sim, os joguinhos do seu celular são considerados games! E as lojas de aplicativos são plataformas de distribuição que sustentam um enorme ecossistema. Quanto mais downloads, mais chances de lucrar com seu game – e a lógica de remuneração varia conforme o app. 

Fase 2: Como se ganha dinheiro com jogos?

Uma situação comum de quem joga no celular é ser interrompido constantemente por propagandas ou ter um limite de uso – cinco vidas por dia, por exemplo. Para ter mais vidas ou deixar de ver anúncios, é necessário pagar.

Esse modelo, chamado de freemium (junção das palavras em inglês free, gratuito, e premium), é uma forma das empresas de games gerarem receita. Caso contrário, elas teriam os custos para desenvolver e manter os jogos, mas não o dinheiro para arcar com esses gastos.

De vida em vida, essas compras dentro dos jogos movimentam milhões. Chamadas de microtransações, elas representaram 43% dos gastos com games no Brasil em 2016, segundo a PwC – e, com um crescimento médio anual de 13%, devem chegar a US$498 milhões em 2021.

Em julho, uma história sobre isso correu o mundo. Uma menina britânica de 11 anos gastou £4.642 (mais de R$ 30 mil na época) no cartão do pai com compras no Roblox – um game em que mais de 100 milhões de usuários criam seus próprios mundos virtuais.

O pai, que tinha permitido apenas uma compra de £4,99, soube do rombo na conta um mês depois, quando já estava no cheque especial por causa de centenas de compras de valores entre £0,99 e £9,99. A história ficou famosa e a empresa devolveu o dinheiro ao pai.

No Brasil, o que não falta é público consumidor para esses jogos: são mais de 75 milhões de jogadores, segundo a Newzoo. E jogadores dispostos a gastar: entre os entrevistados, cerca de 83% tinha comprado algum item virtual nos jogos nos últimos seis meses.

Além dessas microtransações, ainda têm os gastos com consoles, jogos para PC e videogames, eventos para fãs e... por que não, roupas. No ano passado, a marca de luxo Louis Vuitton lançou, em parceria com o jogo League of Legends, uma coleção de roupas e acessórios que custavam entre R$ 935 e R$ 24.600. 

Foto de quatro modelos divulgando a coleção de roupas da Louis Vuitton em parceria com o jogo League of Legends.
Peças da coleção da Louis Vuitton em parceria com o jogo League of Legends (Crédito: Louis Vuitton/Divulgação)

Ou seja, os games impactam diretamente o bolso das pessoas – e, dependendo do valor da compra, podem dar um game over no orçamento.

Fase 3: Jogo é, sim, trabalho sério

Para quem gosta de jogar e se pergunta se dá para viver disso, o mercado gigantesco de games abre muitas oportunidades de trabalho.

Uma carreira mais óbvia é a de jogador profissional de e-sports (esportes eletrônicos). Não é fácil: além de jogar muito bem, jogadores profissionais passam por um treinamento tão rigoroso quanto de outros atletas profissionais.

Mas pode valer a pena: o salário de um jogador profissional de League of Legends no Brasil, por exemplo, pode chegar a R$ 15 mil por mês, segundo um levantamento do GloboEsporte – além dos prêmios volumosos dos campeonatos nacionais e mundiais, que podem chegar a milhões de reais.

Outra possibilidade de carreira é trabalhar em uma empresa que desenvolve jogos. As oportunidades vão desde cargos mais tradicionais, como no marketing ou na administração, até no desenvolvimento dos games em si: programação, design, animação, narrativa... 

De 2014  a 2018, o número de desenvolvedoras de jogos no Brasil cresceu 164%, de acordo com o 2º Censo da Indústria Brasileira de Jogos Digitais (IBJD) – indo de 142 para 375 empresas. Ao todo, elas empregavam 2,7 mil pessoas.

Em outras palavras, esse é um mercado que está crescendo e movimentando muito dinheiro no Brasil e no mundo. Por isso, dá próxima vez que alguém disser que jogar não dá dinheiro, responda que dá sim – e muito!

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