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Qual foi a maior pandemia da história?

Da peste bubônica à varíola, a humanidade enfrentou pandemias antes do Covid-19 e saiu delas com novas práticas de higiene e avanços como a invenção da vacina.

Qual a maior pandemia da história: imagem de uma célula se dividindo em duas

As buscas por “quarentena” podem estar em alta hoje devido ao novo coronavírus – mas, ironicamente, o termo surgiu séculos atrás justamente durante a maior pandemia do mundo. 

A prática da quarentena começou na costa de Veneza em meados do século 14. Eram tempos da peste bubônica. No ano de 1348, as autoridades da cidade exigiram a um navio que toda sua tripulação esperasse por mais de um mês no mar antes de desembarcar. Quaranta giorni, eles disseram: quarenta dias.

Os venezianos queriam garantir que nenhum marinheiro traria a doença. A pandemia é considerada a mais mortal da história, com uma estimativa de 50 a 200 milhões de mortos ao longo de cinco anos.

Hoje, com o coronavírus, os tempos são outros, a doença também, mas continuamos travando uma batalha contra um “um inimigo invisível”.

Conheça quatro grandes pandemias da história e como elas mudaram o mundo.

1. Peste Bubônica (1347-1351)

Qual a maior pandemia do mundo: pintura Triunfo da Morte, de Pieter Bruegel
O Triunfo da Morte, de Pieter Bruegel (cerca de 1562)

A pintura está no Museu do Prado, em Madri, na Espanha. À esquerda, um cavalo branco magricela, com dois esqueletos cansados ​​nas costas, puxando uma carroça cheia de caveiras. É uma das imagens impressionantes de O triunfo da morte, do pintor flamenco Pieter Bruegel. 

A pintura se refere à peste bubônica, que devastou a Europa vinda da Ásia Central, de onde passou para a península da Crimeia pela Rota da Seda.

A pandemia, que durou entre 1347 e 1351, foi a mais devastadora da história: estima-se que matou mais de 25 milhões de pessoas,  ou mais de 40% da população europeia

Alojada nas pulgas de ratos, espalhou-se por toda a Europa usando especialmente navios mercantes como meio de transporte. O contágio se dava por meio de mordidas das pulgas, infectando pessoas, e ratos – que, ao serem mordidos por outras pulgas, passavam a peste adiante. 

A peste bubônica consiste em uma infecção dos gânglios linfáticos, cujos sintomas são observados em calafrios, febre, convulsões e formação de bolhas. 

Apesar dos avanços científicos, a doença ainda não foi totalmente erradicada. É endêmica em Madagascar, República Democrática do Congo e Peru. 

Após a Peste Bubônica

A pandemia do século XIV não foi a única de peste bubônica – mas sem dúvida se tornou a mais conhecida da história. Muitos autores atribuem a ela a popularização de diversas medidas de higiene e saúde ao longo dos próximos séculos: a construção de hospitais, comitês de saúde e pesquisas médicas, por exemplo.  

2. Varíola (1520)

Segundo historiadores, não foram a tática militar nem os 900 homens do exército de Hernán Cortés que derrotaram o império asteca no início do século 16. Foi a varíola. Os europeus, além de armaduras e cavalaria, trouxeram a doença para as Américas.

Em dezembro de 1520, a varíola havia levado consigo pelo menos um terço da população (incluindo o imperador Cuitláhuac) de Tenochtitlán, a capital do império onde hoje está localizado o México.

Os sintomas de uma infecção típica por varíola começavam com febre cerca de duas semanas depois de uma pessoa ser exposta ao vírus Variola major. Dentro de alguns dias, erupções cutâneas elevadas apareciam no rosto e no corpo; feridas se formavam dentro da boca, garganta e nariz; e pústulas cheias de líquido também cresciam.

A varíola era transmitida por contato próximo com as feridas ou gotículas emitidas pela respiração de uma pessoa infectada. Roupas de cama ou roupas contaminadas também podiam transmitir a doença.

A varíola é considerada a segunda maior pandemia da história – existem estimativas de que ela matou até 90% da população nativa do continente americano.

Sua trajetória ao longo da história é impressionante: acredita-se que ela apareceu na Índia ou no Egito há 3.000 anos e que o faraó egípcio Ramsés V morreu por sua causa em 1157 a.C. De qualquer forma, estima-se que 300 milhões de pessoas tenham morrido pelo vírus durante o século 20.

Mudanças causadas pela Varíola

A primeira vacina conhecida surgiu para combater a varíola. Na verdade, desde os anos 1600 há relatos de procedimentos conhecidos como “variolização”: retirar pus ou partes ressecadas das feridas de um paciente e colocar pequenas quantidades no nariz ou sob a pele de pessoas não infectadas.

Já se havia notado que esse procedimento, embora arriscado, levava um bom número de pessoas a contrair uma versão mais leve da doença e ficar imunizado. 

Foi em 1796 que o médico britânico Edward Jenner descobriu uma forma eficaz e mais segura de imunizar as pessoas sem expô-las ao vírus. Ele notou que mulheres que trabalhavam ordenhado vacas com varíola bovina apresentavam feridas muito leves nas mãos, mas não contraíam a versão da varíola humana, muito mais letal.

Na hipótese de que as mulheres estavam imunizadas, ele testou aplicar secreção das pequenas feridas de suas mãos em uma pessoa saudável – que também se tornou imune à varíola. 

Qual a maior pandemia da história: colagem mostra janelas, em referência ao isolamento social para conter a pandemia, cada uma em sua "bolha" específica.

3. Gripe Espanhola (1918-19)

No mesmo momento em que o mundo estava mergulhado na Primeira Guerra Mundial, instalava-se na Europa (acredita-se que na França, pelo contágio de tropas transferidas dos Estados Unidos) a primeira pandemia causada pelo vírus da gripe, a H1N1 – a terceira mais letal na história da humanidade.

Se a guerra levaria perto de 30 milhões de pessoas, a gripe acabaria com 50 milhões – dez por cento dos infectados em todo o mundo.

Ficou conhecida como “gripe espanhola” porque na Espanha, um país neutro em guerra, existia um controle melhor da doença – diferentemente dos países que estavam imersos em guerra. 

Apesar de não ser o epicentro, na Espanha 8 milhões de pessoas foram infectadas, das quais 300.000 morreram.

Febre alta, dores de ouvido, fadiga corporal, diarréia e vômitos ocasionais eram os sintomas da doença. Muitos morreram de pneumonia bacteriana secundária, já que não existiam antibióticos disponíveis. A falta de informação e de recursos evitaram investigar o foco mortal do vírus.

Hoje, sabe-se que se tratava de um surto do vírus influenza A, do subtipo H1N1, que, diferentemente de outros vírus que afetam basicamente crianças e idosos, infectou jovens e adultos saudáveis ​​entre 20 e 40 anos.

Como não havia protocolos sanitários para seguir, os pacientes se aglomeravam em espaços confinados sem ventilação, assim como os corpos nos necrotérios e cemitérios. Naquela época, a máscara de pano e gaze sobre a boca e o nariz se tornaria popular.

No final da década de 1920, o vírus desapareceu.

Após a Gripe Espanhola

De acordo com vários estudos, a pandemia de 1918-1919 levou a grandes avanços na saúde pública e na adoção de estratégias para combater futuros surtos – como mais educação sobre higiene e saúde e políticas de isolamento e vigilância. 

Na época, foram implementadas práticas de notificação obrigatória de casos, monitoramento de comunidades, fechamento de espaços públicos, suspensão de eventos, limpeza de ruas, distribuição de sabão e até mesmo proibições como cuspir na rua. 

4. Praga de Justiniano (541-542)

É conhecida como “inverno vulcânico”. Durante o século 6, aconteceu no hemisfério norte o resfriamento mais severo dos últimos dois mil anos. Isso foi desencadeado por duas erupções vulcânicas próximas aos trópicos que deixaram no ar um céu de cinza e resfriaram em dois graus a temperatura. O resultado? Colheitas magras e fome generalizada.

Sabe-se que um vulcão explodiu em 534 e o segundo em 540. Em seguida, veio a peste, a bactéria Yersinia pestis, que mataria mais da metade dos habitantes do então considerado Império Romano do Oriente ou Império Bizantino.

Os estudos não concordam se a doença é mais semelhante à varíola ou ao sarampo. De qualquer forma, seu nome deriva de quem era imperador na época, um ex-soldado dos Bálcãs, Justiniano, famoso pela codificação completa do direito romano no famoso Código que também leva seu nome.

A pandemia nasceu no Egito, se espalhou para a Síria e de lá para Constantinopla, a capital bizantina, onde quase metade de sua população morreu. Acredita-se que a doença se espalhou do Mediterrâneo para a Finlândia, na Europa, deixando de 30 a 50 milhões de mortos.

Após a Praga de Justiniano

Embora exista um debate sobre o real tamanho da pandemia, historiadores acreditam que os ciclos de infecção se estenderam por até 12 anos – o que teria devastado uma boa parte da população da Europa e impactado de forma profunda os rumos econômicos, sociais e políticos da região (com o início do Império Bizantino).

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