Contexto

Esta seção traz, em números, o retrato da mulher empreendedora na pandemia.

ILUSTRADORA: @lecliticia

Leticia Vieira, Natal/RN

Como é o seu processo criativo?

”Trabalho com ilustração digital há mais de 3 anos e tenho uma conexão profunda com todos os meus trabalhos. Independente do que foi exigido pelo cliente, sempre tento colocar um pouco de mim nas ilustrações, trazendo as referências que me fizeram chegar até aqui. Acredite: em tudo o que já produzi, tem um pedaço de mim.”

Você sente ou sentiu desafios sendo mulher empreendedora criativa?

”Entrar no mercado de trabalho sendo uma mulher é desafiador. Ainda mais sendo uma mulher preta e ilustradora. É proteger e relembrar que seu trabalho é muito maior do que os números que colocam (e nem sempre são altos). E, acima de tudo, ter coragem para ocupar espaços que sempre lhe foram negados, ou que sequer foram oferecidos.”

Como você faz a sua organização financeira?

”Nem sempre se tem de onde tirar o dinheiro, e esse é um dos maiores desafios do trabalho de freelancer. A constante dúvida se vou receber o suficiente no próximo mês faz com que eu salve dinheiro para tentar cobrir algum gasto inesperado. Trabalhar com internet custa caro, material bom, licença de programa, internet e luz também não são baratos. Para mim, o gasto pessoal anda de mãos dadas com o do negócio.”

Você encontrou barreiras para seguir como empreendedora na pandemia?

”Durante a pandemia confesso que tive sorte: a demanda de trabalho acabou sendo mais alta por conta do aumento no fluxo de acesso à internet durante esse período. Mas não vou mentir que foi fácil. Eu me desdobrei, abri uma lojinha com ilustrações minhas impressas, entrei para o ramo de tecelagem, vendi macramê, fiz de tudo.”

Empreendedoras sofreram mais com a crise sanitária

Segundo dados da mesma pesquisa da Rede Mulher Empreendedora em parceria com o Instituto Locomotiva mencionada anteriormente, 39% dos empreendimentos liderados por mulheres tiveram que paralisar suas atividades devido à pandemia. A pesquisa realizada em abril de 2020 mostra que, com a crise provocada pela pandemia de Covid-19, o abismo entre homens e mulheres MEIs – que já existia – ficou ainda mais evidente.

Por isso, ao falar das diferenças de trabalho autônomo entre eles e elas, é impossível evitar a análise de contextos sociais. Historicamente, mulheres acumulam jornadas: trabalho, família e cuidados com a casa. Isso, no momento em que escolas e creches ficaram fechadas, inviabilizou a dedicação de muitas delas à vida profissional.

No decorrer da pandemia, outros movimentos puderam ser notados, como o crescimento no número de novas mulheres MEIs – empurradas para o empreendedorismo pelo desemprego – e maior desigualdade de renda entre homens e mulheres autônomos.

Cenário

No Brasil, ao falarmos de empreendedorismo, é preciso tocar em outro assunto que anda lado a lado: o desemprego. Hoje, existem 14,8 milhões de desempregados no país, e o perfil médio do desempregado brasileiro é de uma mulher, jovem e negra, de acordo com os dados do Ipea.

Em resposta a essa conjuntura, desde 2012 tem crescido o número de microempreendedores no Brasil. A Pnad Contínua aponta que, depois de uma forte queda no início da pandemia, houve um crescimento recorde na criação de MEIs entre o segundo semestre de 2020 e o primeiro de 2021. Contudo, o empreendedorismo por necessidade tem se tornado cada vez mais o motivo por trás da criação desses negócios.

Segundo a Pesquisa GEM, durante o primeiro ano da pandemia, em 2020, 50% dos empreendedores iniciais começaram seu negócio “por necessidade”. Esta foi a maior taxa de empreendedorismo por necessidade dos últimos 18 anos. Neste mesmo ano, saíram do mercado muitas mulheres empreendedoras experientes (com mais de 3,5 anos na atividade) enquanto ingressaram muitas mulheres menos experientes na atividade empreendedora.

Os dados evidenciam que as chamadas empresas consolidadas sofreram impacto, assim como as mulheres, que foram as mais impactadas pelo desemprego e se tornaram, também, parte expressiva dos novos MEIs (45,6%) .

Os três recortes combinados (de desemprego, de fechamento de empresas consolidadas e de abertura de empreendimentos por necessidade) deixam claro que as mulheres ocupam uma posição mais vulnerável do que os homens do ponto de vista sócio-econômico.

O retrato da empreendedora mulher na pandemia em números do Nubank e do SEBRAE

Mulheres representam

33,6%

dos donos de negócio no Brasil;

53%

delas têm até 44 anos;

39%

têm ensino médio e 29% chegou ao ensino superior;

47%

são pretas ou pardas;

43%

estão na região sudeste;

48%

dos negócios liderados por elas interromperam temporariamente as atividades, em abril de 2020 (primeiro mês da pandemia), em comparação com 44% dos negócios liderados por homens;

45,6% dos novos MEIs são mulheres;

A renda média das mulheres MEIs clientes do Nubank é 24,6% menor do que a dos homens em 2021 ;

53%

delas pediram algum empréstimo para a empresa durante a crise.

Oportunidades

Entendendo a relevância das mulheres empreendedoras para a economia brasileira, compreender quem são, como se comportam financeiramente e as principais diferenças entre elas e eles nesse segmento é fundamental para conhecer o cenário brasileiro de MEIs hoje.